A Citânia de Briteiros é um povoado fortificado da Idade do Ferro, cujo longo e caraterístico percurso dentro da arqueologia portuguesa lhe granjeou um lugar de destaque, sendo Monumento Nacional desde 1910. Existem notícias das ruínas da Citânia desde o século XVI. No Inquérito Paroquial de 1758, o pároco da freguesia, o abade João da Costa Ribeiro, fazia menção às ruínas aí existentes, informando: “(…)  o monte Citânia, na coroa do qual se conservam vestígios evidentes de que foi povoação grande”.  Contudo, foi no século XIX que despertou em Francisco Martins Sarmento a curiosidade perante as ruínas do Monte da Citânia, pelo que encetou a sua exploração a expensas próprias. A partir de então, e com o rápido aparecimento das estruturas urbanas que as escavações traziam à luz, este povoado foi adquirindo importância e reconhecimento nos planos local, nacional e internacional. Trata-se do povoado castrejo mais intervencionado do país, mercê das dezenas de escavações nele efetuadas, desde Martins Sarmento ao presente, ultrapassando em número as realizadas no Castro de Carvalhelhos e no Mozinho.

A Citânia está situada maioritariamente na freguesia de S. Salvador de Briteiros, e apenas uma pequena parte na freguesia de Donim, distando do centro de Guimarães cerca de 15km. A área total do povoado é de cerca de 24 hectares, ajuizando pela delimitação das suas defesas, perfazendo cerca de 7 hectares a área à data escavada e estudada. A Citânia implanta-se sobre um esporão – o denominado Monte de S. Romão - elevação que se integra no maciço orográfico que separa as bacias hidrográficas dos rios Ave e Cávado.

O povoado é delimitado por três linhas de muralhas, as quais tendem a aproximar-se entre si no lado norte do povoado. Nesta área arranca, no sentido perpendicular à muralha exterior, um muro que serpenteia pela crista do monte e seguindo o seu alinhamento, pelo que há quem o considere ser uma quarta linha de muralha. Estão identificadas sete portas ao longo das muralhas. A muralha interior parece datar do século I d.C. (Centeno – Silva 1979, 429-30), portanto construída sob o domínio romano, podendo não ser a única estrutura defensiva do conjunto a ser construída nesta época.

O que vemos hoje na Citânia é maioritariamente fruto das escavações conduzidas por Francisco Martins Sarmento e, posteriormente, por Mário Cardozo, nas quais se buscou sobretudo o último nível de ocupação com estruturas estáveis e coerência arquitetónica. Desta forma, são mal conhecidos os vestígios de ocupação anteriores a esta fase, que a eles se sobrepõe.

As construções que formam o tecido habitacional do povoado encontram-se dispersas por plataformas de dimensões muito variáveis, as quais são definidas por muros de suporte em pedra, que acompanham os declives do terreno. Documentam a tentativa de regularizar o pendor acentuado do terreno com estes pequenos terraços, os quais ordenam o espaço em nichos habitacionais. Na elevação a sul, onde se encontra a Capela de S. Romão, existe um pequeno espaço menos acidentado no cume do esporão, com cerca de 80 metros de diâmetro, que parece corresponder à acrópole do povoado.

O alinhamento de alguns arruamentos denuncia a tentativa de organização ortogonal do espaço urbano, lutando contra as adversidades da topografia.   Na crista do monte intersectam-se dois arruamentos em esquadria, enviesados em relação aos pontos cardeais, constituindo-se como as duas ruas principais, que atravessam todo o povoado. Uma ascende a meia encosta, pelo lado este num sentido norte-sul infletindo, a determinada altura para noroeste; enquanto que a outra, do lado oeste, segue pelo topo do outeiro, numa direção NE-SO.  Ao longo do percurso destas vão-se cruzando outros arruamentos menores, mais estreitos e segmentados, que contribuem para ordenar a malha de tendência ortogonal que impera no urbanismo deste povoado, e define os espaços de cada um dos núcleos de habitação. Tanto a estrutura e largura dos arruamentos como o desgaste dos seus pavimentos parecem descartar a utilização de veículos no interior do povoado, onde a circulação seria pedonal.

As construções que compõem o povoado formam um conjunto apreciável que ascende a cerca de 150 estruturas, apresentam caraterísticas diversificadas, naturalmente decorrentes das suas funções individuais, das diacronias de construção, e também certamente de condicionalismos sócio-económicos dos seus habitantes. Os recintos de ocupação familiar dentro dos quais se implantam as construções, são delimitados por muros que formam espaços maioritariamente quadrangulares, os quais se articulam com o ordenamento dos arruamentos formando assim “quarteirões” habitacionais. Este ordenamento urbanístico parece ser tardio, já contemporâneo da presença romana, e quiçá por ela promovido, desconhecendo-se ainda se também terá sido acompanhado por um aumento do espaço do povoado. Deste ordenamento ficaram os conjuntos familiares organizados entre arruamentos, dentre os quais temos um exemplo curioso, no extremo sudoeste e junto à entrada da Citânia: um destes “loteamentos” que se estende encosta abaixo no qual ficaram alguns lotes por ocupar.

As estruturas habitacionais situadas dentro destes recintos, e às quais chamamos casas, cumprem a função da casa composta por várias peças, cada uma das quais com a sua função dentro do espetro agro-pastoril e artesanal desta sociedade. As diversas construções apresentam plantas variadas que variam entre as formas redonda e quadrangular. Dentro do recinto familiar, normalmente uma das construções apresenta lareira e indícios de cozinha, sendo esta o centro da unidade familiar. Algumas das construções com planta circular apresentam um pequeno vestíbulo ladeando a entrada e, no centro do seu espaço interior, vestígios de um apoio de prumo, normalmente uma pedra de formato quadrangular, que serviria de apoio para o telhado de perfil cónico. Algumas soleiras possuem estrutura de gonzo, indicando que a porta teria apenas uma folha. Os pavimentos exteriores, nomeadamente os dos arruamentos e os dos pátios, são empedrados com peças em granito. Algumas das construções revelam indícios de terem as suas paredes interiores revestidas com um reboco feito com argamassa de saibro endurecido.

No contexto da arquitetura e urbanismo deste povoado, são dignos de referência os dois balneários coletivos, com a respetiva estela frontal conhecida como “Pedra Formosa”. Ambos os balneários foram postos a descoberto em virtude de se situarem no traçado da estrada que conduz de Briteiros a Pedralva, e interseta a Citânia. O que fica situado a sul foi, afortunadamente, escavado e descrito por Mário Cardozo, vendo assim preservada, não só a informação como a sua integridade.

Os numerosos trabalhos realizados neste sítio permitiram recolher elementos que denunciam ocupações anteriores à Idade do Ferro, durante as quais se trataria certamente de um povoado com estrutura diferente.

A maioria dos materiais recolhidos ao longo das intervenções na Citânia pertencem à Idade do Ferro, e mais concretamente à sua fase final, já dentro do período de romanização. As intenções dos trabalhos, e a sensibilidade dos seus promotores, não privilegiaram o estudo dos espólios nem o seu enquadramento em relação com as estruturas, razão pela qual esta inestimável fonte de informação não foi convenientemente explorada, nem os registos o permitem fazer a posteriori.

Contudo, o maior acervo de materiais cerâmicos pertence já ao século I d.C., tanto nas produções indígenas locais, como nas produções regionais e importações, dento das quais Mário Cardozo nos salienta as sigillatas (1943, 247-51; 1952, 349) e ânforas, mas não negligenciando a quantidade apreciável de adornos e utensílios metálicos, e também alguns vidros. As atividades económicas do povoado estão documentadas mormente pelas utensilagens, mas também por uma ou outra representação. Temos forte evidência de prática metalúrgica, mas também da tecelagem e da olaria e, naturalmente, de todo o espetro ligado à construção, desde o trabalho da pedra e da madeira, aos rebocos.