A Quinta do Paço situa-se a monte de São Romão, o mesmo onde se implanta a Citânia de Briteiros. A propriedade destaca-se pela sua casa-torre senhorial, modelo que caracteriza algumas casas senhoriais do norte de Portugal. A propriedade é delimitada a norte e nascente, por um caminho florestal, a sul pela Quinta da Cavada, e a poente pela Igreja e rua. A propriedade é atravessada por um caminho que marca um eixo de poente a nascente estruturando toda a quinta, partindo da entrada principal, passando pelo centro, onde está implantada a habitação rodeada por jardins, o edifício da adega e moinho, e acabando na capela. A sul deste eixo encontra-se a maior parte dos terrenos de cultivo. A norte estão situados os campos de menor dimensão, os edifícios de apoio agrícola, a zona do lago e uma área florestal. Toda propriedade está murada tendo três entradas, a principal de acesso à casa, outra na rua da igreja, e outras duas no caminho florestal a norte, uma com acesso aos terrenos junto do sequeiro e espigueiro e a outra próxima da capela de Santa Margarida.

A entrada principal é caracterizada por um portão de grande dimensão. O muro de granito da propriedade recua, criando um espaço semicircular côncavo que abraça o visitante. O muro eleva-se nas laterais criando um portal retilíneo com moldura em granito, marcado lateralmente por pilastras rematadas por cornija e encimadas por pináculos. No topo, sobre a padieira, ergue-se um brasão ladeado por aletas e encimado por um pináculo. O portão é composto por duas folhas em madeira, com almofadas. Nas laterais existem dois vãos gradeados. As paredes do muro são rebocadas com soco em granito. Esta entrada dá acesso à longa alameda com árvores de grande porte que conduz à casa, constituindo um eixo estruturante da propriedade. Pelo caminho pode observar-se os campos que descem para sul, assim como os do norte que terminam na igreja. Próximo da casa há um pequeno jardim informal marcado por chafariz esculpido com sereias no granito e base circular datável de Setecentos.

A habitação é composta por dois pisos, com andar nobre sobre piso de serviços, e uma torre de três pisos que se eleva no ângulo poente. A implantação tem forma em “U” assimétrico, abrindo-se para sudeste, com um varandim voltado para os campos e jardim. Todo o edifício é rebocado, com fachadas enquadradas por cunhais, pilastras e cornijas em granito. Os vãos têm formas retilíneas com molduras em granito e janelas ou portas em madeira pintada, com exceção dos vãos da fachada poente da torre que têm molduras embutidas de arco canopial em granito. As restantes janelas do piso superior são de sacada com apoio em base de granito sobre mísulas e guardas em ferro trabalhado.

A fachada principal volta-se para o terreiro e jardim formal a nordeste. É simétrica, assinalada por escadaria central, com arranques laterais duplos que se unem no patamar intermédio. O último lanço desemboca no alpendre telhado que antecede a entrada, apoiado sobre pilares de granito assentes na guarda da escada. Na frente da escada encontra-se uma fonte decorativa, com espaldar e tanque semicirculares.

A fachada lateral noroeste confronta com o caminho de chegada. O elemento que mais se destaca é a torre de três pisos e secção quadrangular, de paredes rebocadas enquadradas por cunhais e rematada por cornija lisa sobre a qual assentam sete merlões em cada lado e quatro gárgulas-canhão nos vértices. Assume um lugar de destaque na paisagem pela sua verticalidade e forte relação com a torre da Igreja.

A fachada sudeste volta-se para o jardim formal e campos a sul. O varandim tem acesso por escada de granito de dois lanços, em forma de “L”, em torno de uma fonte decorativa de linhas retilíneas. Os panos desta fachada e fachada sudoeste são marcados por um friso de granito que marca a separação dos pisos, alinhado com as varandas das janelas de sacada. 

A habitação está rodeada por dois jardins formais, um localizado a sudeste acompanhado de um pombal e edifícios de apoio longitudinais; o outro, localizado a nordeste, é composto por lagos, buxos recortados e algumas peças decorativas em granito.

O edifício da adega e moinho situam-se próximo da casa, do lado norte do caminho. É composto por dois volumes encostados, de plantas retangulares. O edifício faz a transição entra a cota inferior, que comunica com os campos, e a cota superior comunicando com o caminho. Todo o edifício é de alvenaria de granito com coberturas de quatro águas em telha. Na fachada confrontante com o caminho encontramos três cruzes esculpidas em alto-relevo.

O caminho principal desemboca na Capela de Santa Margarida, onde se abre uma clareira no coberto florestal de árvores de grande porte. A capela apresenta-se de frente para o caminho, com uma nave, planta retangular, cobertura de duas águas e dimensão modesta. As fachadas são lisas, rebocadas e enquadradas por embasamento, cunhais e cornija encimada por pináculos prismáticos e cruz latina no topo. A fachada principal é rasgada por um portal retilíneo, com duas folhas em madeira e com moldura em granito. A fachada lateral direita é rasgada por uma porta com moldura de granito e por e uma pequena janela alta com moldura em capialço. No interior, o altar é de madeira, pintada de branco, trabalhada com motivos naturalistas em dourado. Ainda hoje, no dia da romaria de Santa Margarida os proprietários abrem a Capela ao público.

Da capela parte um caminho que atravessa o bosque, passando pelo lago e olival levando-nos até à zona do sequeiro e espigueiro. Este conjunto é composto por um grande sequeiro de dois pisos com sete módulos cada, antecedido por uma ampla eira da qual se têm uma vista privilegiada sobre o centro da freguesia, nomeadamente a Igreja do Divino Salvador e sua envolvente. Lateralmente ao sequeiro, permanece uma ruína de um edifício de grandes dimensões destruído por um incêndio. Resiste a fachada, que confronta com o caminho periférico da quinta, na qual são visíveis as marcas de grandes vãos distribuídos pelo que seriam os dois pisos. Este é um indicador da grande produtividade que a quinta teve outrora.

O espigueiro implanta-se em frente à eira, composto por seis módulos. Toda a estrutura é de granito, destacando-se os pilares que os apoiam dinteles, ou retorna-ratos, com perfil biselado para evitar o acesso de roedores. Os vãos são fechados por ripado de madeira e a cobertura é de duas águas em telha, encimada por uma cruz latina numa das extremidades.

A quinta do Paço, em Briteiros, também nomeada quinta de Briteiros foi antiga honra, pertença da geração de D. Gomes Mendes de Briteiros, o primeiro a tomar o apelido Briteiros que lhe veio da quinta de que foi senhor, na freguesia de São Salvador de Briteiros. D. Gomes Mendes de Briteiros foi o primogénito de Mendo Pires de Longos, cavaleiro que viveu no tempo de D. Afonso Henriques, filho de Pedro de Longos, ilustre cavaleiro de D. Afonso VI, de Leão, que, segundo Manuel de Sousa da Silva, tomou o apelido da quinta de Longos, na freguesia de Santa Cristina de Longos, onde morou, ou, conforme opinião do marquês de Montebelo, da freguesia de S. João de Longos Vales, junto a Monção, de onde seria originário.  

.             Desconhece-se se quinta do Paço ou de Briteiros, se encontrava originalmente na geração dos Longos; certo é que a propriedade parece constituir desde muito cedo o epicentro do poder senhorial na região, ao ponto de honrar toda a freguesia de São Salvador Briteiros, na qual não entrava porteiro nem mordomo real.

D. Gomes Mendes «de Briteiros» casou com D. Urraca Nunes sucedendo-lhes o primogénito, D. Rui ou Rodrigo Gomes de Briteiros que, segundo Gaio se amancebou e depois casou com Elvira Pires «da Maia», filha de D. João Pires da Maia e de D. Guiomar Mendes de Sousa, da estirpe «dos Sousas», por cujo matrimónio entraram na geração dos Briteiros alguns bens da casa dos Sousa, o que levou mais tarde os Briteiros a reclamarem pretensões sobre aquela casa.

Sucedeu na honra de Briteiros e quinta do Paço, João Rodrigues de Briteiros, filho dos antecedentes, rico-homem da segunda metade do século XIII. Teve grande influência na corte de Afonso III, sendo um dos mais devotos conselheiros e condiscípulos daquele monarca que o nomeou por seu copeiro. De seus pais herdou, além da quinta de Briteiros, solar da família, numerosos bens de raiz nomeadamente a «quintaã» do Paço, em Santa Maria de Corvite, que fora já honra de seu pai; a terça da freguesia de São Salvador de Donim, trazida da parte do Mosteiro de Tibães, por honra e a «quintaã», ou honra, de Espinho (em São Martinho de Espinho).

Nos inícios do século XIII a honra de Briteiros estendia-se por cerca de quatro freguesias além da cabeça da dita honra, a quinta do Paço, em São Salvador. Nalguns destes lugares repartia os haveres com seu irmão D. Mem Rodrigues. Casou com D. Guiomar Gil, filha de D. Gil Vasquez «de Severosa» e de D. Aldonsa Anes «da Maia», ainda sua parenta (Ventura; Oliveira: 1995, pp. 73-85).

Herdará a honra de Briteiros seu filho, Martim Anes de Briteiros, casado com D. Urraca Lourenço (Gaio: 1992, vol. II, pág. 88), também denominada D. Branca de Lourenço (Gaio: 1992, vol. X, pág. 321, 359), filha de D. Lourenço Soares de Valadares e de D. Sancha Nunes, que, por sua vez, legam a honra e seu solar ao primogénito homónimo, D. Martim Anes de Briteiros, casado com sua prima, D. Leonor Mendes, filha de D. João Mendes de Briteiros e sua mulher D. Urraca Afonso.

Este casal teve uma filha, D. Maria de Briteiros, que sucedeu na casa de seu pai e casou com seu primo co-irmão, Martim Afonso de Souza Chixorro, capitão da guarda do infante D. Fernando, filho bastardo de Martim Afonso de Souza Chixorro, havido em D. Aldonça Annes de Briteiros, Abadessa de Arouca.

 Com a ligação aos Sousa, correrá a quinta do Paço na posse da mais distinta nobreza do país, pelo filho dos sobreditos, Gonçalo Anes de Sousa, o Chichorro, 3º senhor de Mortágua, que casou primeira vez com Filipa de Ataíde, filha de Martim Gonçalves de Ataíde, alcaide-mor de Chaves e de sua mulher Mécia Vasques Coutinho. Deste matrimónio nasceu D. Mécia de Sousa, sucessora na casa de seu pai e 4ª senhora de Mortágua que casou com D. Sancho de Noronha, 1º Conde de Odemira, filho de Alfonso, Conde de Noroña e Gijon e de D. Isabel de Portugal, filha do Rei D. Fernando I.

A sucessão na quinta do Paço em Briteiros faz-se na filha destes, D. Maria de Noronha, 2ª Condessa de Odemira, que casou com D. Afonso, 1º Conde de Faro (e por casamento 2º Conde de Odemira), filho de D. Fernando I, 2º Duque de Bragança e de sua mulher D. Joana de Castro. A ligação dos senhores do Paço à casa de Bragança ditará o futuro da propriedade. O velho solar dos Briteiros há largos anos que não era habitado pelos seus senhores, pois em ruínas, o Paço convidaria muito pouco ao assento de tão ilustre nobreza. É então que D. Maria de Noronha e seu filho D. Diogo de Sousa decidem vender o Paço, em data desconhecida, a Fernão de Magalhães, cavaleiro da casa de seu sogro, D. Afonso 1º, duque de Bragança (Gaio: 1992, vol. VII, pág. 172).

Fernão de Magalhães havia enriquecido com o trato de propriedades e outros negócios, facilitados pela proximidade à casa de Bragança. Casou com D. Briolanja de Azevedo sendo de admitir que procedesse aquando da aquisição da quinta do Paço a intervenções no edificado, pois se documenta aí ter residido.

A quinta do Paço será dotada à filha destes, D. Brites da Silva, para casar com Jorge de Abreu, filho bastardo de Pedro Gomes de Abreu, senhor de Regalados e de D. Catarina d’ Eça, Abadessa de Lorvão.

Sucedeu na quinta do Paço de Briteiros o filho destes, Pedro Gomes de Abreu, fidalgo da casa Real, casado a 03 de maio de 1548 com Ana de Barros, filha de Lopo de Barros, administrador do vínculo de Real e do de Moreira e de sua mulher D. Brites Bravo de Araújo. Estes tiveram Lopo Gomes de Abreu, sucessor na quinta do Paço de Briteiros, que, por escritura de 24 de fevereiro de 1602 vendeu ao Doutor Jorge do Vale Vieira, cavaleiro do Hábito de Cristo, filho de João do Vale, ouvidor dos órfãos em Braga, e de sua mulher Camilia Vieira. Segundo Domingos Afonso de Araújo (Araújo: 1975, pág. 50-55), o Doutor Jorge Vieira do Vale vendeu a quinta do Paço ao senhor Cristóvão Vieira[1], filho de Francisco Vieira de Andrade e de sua mulher D. Antónia de Vasconcelos por 5.000 cruzados, ainda que Gaio informe que foi o pai e não o filho quem «comprou a dita quinta de Briteiros e Coutos aos Abreus» (Gaio: 1992, vol. IX, pág. 153), o mesmo afirmando com base em Montebelo, Francisco Xavier da Serra Craesbeeck nas suas Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho, de 1726. Já o padre Torcato Peixoto de Azevedo nota o seguinte: «o Dr. Jorge Vieira, desembargador da relação eclesiástica de Braga, e provido na Igreja de São Paio, de Riba Vizela pelo arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus, instituiu morgado na quinta de Briteiros, a quem anexou o couto de Pedraído com outras rendas, e o nomeou em seu irmão Francisco Vieira de Andrade, é administrador Pedro Ribeiro de Vasconcelos descendente do dito, que mora na dita quinta de Briteiros, na freguesia do Salvador, termo desta vila e tem casas nobres» (Azevedo: 2000, p. 366).

Das três versões que se apresentam sobre a mudança de propriedade do Paço de Briteiros, a do Padre Torcato Peixoto de Azevedo será a que se nos apresenta mais verosímil.

Segue a quinta de Briteiros nesta geração pelo menos até ao século XVIII e dela nos dá conta Craesbeeck na obra citada ao documentar que a Francisco Vieira de Andrade «(…) sucedeo na casa e morgado seo filho Balthasar Vieira de Vasconcellos; e a este, seo filho Francisco Mendes de Vasconcellos, que não casou, e sucedeo seo irmão segundo Pedro Ribeiro de Vasconcellos; e a este, seo filho Baltazar Vieira de Vascponcelos, que hoje he Senhor da dita quinta de Briteiros».

É precisamente nesta obra que encontramos uma descrição da quinta do Paço, em 1726 nos seguintes termos:

«He esta quinta muito grande e nobre e muito copada de carvalhos. En a entrada, tem hum letreiro grande e nelle, da parte do Sul, este letreiro:

FRANCISCO MEN/DES DE VASCONCE/LOS MANDOU FA/ZER ESTA OBRA.

E, da parte do Nasçente, está no dito cruseiro a seguinte:

MESTRE ANTONIO DA SILVA.

Tem hum grande pateo, por onde se entra, com hum grande portado, e sobre elle está hum escudo das armas dos Vasconcellos, Vieira, Tavoras, e Machados, nesta forma (…)

Dentro da dita quinta está hum grande casarão antiguo, com huma porta de arco, tudo de cantaria; e tem a dita porta 15 palmos de alto e 10 de largo: he casa terrea, muito alta e muito comprida, que hoje serve de adega e algum tempo devia esta casa de ser seleiro e juntamente adega e lagar, segundo se colhe de alguns vestígios, que ainda concerva, para os ditos menisterios.

Sobretudo o que mais authoriza esta quinta são as casas, que tem fronteiras â dita capella, que desta a ellas está um grande passeio: junto às ditas casas está levantada huma torre antigua, quadrada e coroada de ameas, que para o Norte faz a sua frente e para o Sul tem en cada canto duas ameas, para cada parte, e no meio sinco, con que vem, ter sette ameas, para cada quadra, e três andares de alto, de quinze palmos de altura, en cada hum, que fazem quarenta e sinco de alto das ameas; vem a ter sincoenta palmos de alto e de largo, en cada quadra, tem trinta e sinco palmos. Pella porta do Sul, não tem janelas, mas pellas tres partes mais, tem en cada casa três janellas, huma para cada vento; e só no andar de baixo tem huma fresta para o Norte. E assim he a dita torre na forma seguinte: (desenho da torre)».

Na segunda metade do século XIX o Paço tornou-se propriedade da sociedade comercial de José Augusto Dias (constituída em 1868, com atividade documentada desde janeiro de 1903), do Porto.

Será provavelmente por iniciativa deste rico negociante que se realizarão profundas obras de restauro na quinta do Paço, com a reconstrução da casa e torre, deslocação da capela de fronte da casa para o outeiro onde hoje se encontra, bem como a construção do lago e reorganização dos jardins, com toda ambiência romântica que compõe o conjunto, característica da época. Será também do mesmo período o redimensionamento das dependências à atividade agrária.

Na década de vinte o Paço será adquirido por Arnaldo Gonçalves (gerente da Fábrica de Bairro, administrador da CHENOP e em 1936 fundador da Fábrica de Fiação e Tecidos da Ponte da Pedra, em Leça do Balio) e sua mulher Luísa Ferreira de Oliveira Gonçalves ao filho deste empresário, o banqueiro José António Dias Júnior. Seguirá a propriedade do Paço na geração deste, por seus filhos e neto, atual proprietário.

[1] Domingos Afonso de Araújo nomeia-o por cónego Cristóvão Mendes de Vasconcelos.