A quinta localiza-se na área central da freguesia de Fermentões, em encosta a nascente da Igreja de Santa Eulalia.

A propriedade desenvolve-se inferiormente ao arruamento em direção ao vale e é constituída por elementos justapostos: casa principal, um tanque, um palheiro, um sequeiro e cortes.

O acesso realiza-se a norte através da Rua do Assento, que delimita a propriedade a norte, poente e sul. A sul, a propriedade dispõe de uma entrada direta aos edifícios de complemento às atividades agrícolas. A nascente, a propriedade estende-se por área agrícola de morfologia diversa.

O edifício da casa principal desenvolve-se em “L”, aberto para norte com volumes de dois pisos. Construído a cota inferior ao arruamento e com estrutura em granito, apresenta características evidentes de algumas intervenções, possivelmente a casa seria inicialmente de implantação em “L” incluindo apenas um elemento a nascente de um piso, crescendo posteriormente para um segundo. A entrada principal faz-se por portal de verga reta e permite o acesso ao quinteiro. Este resulta do fecho dos volumes em “L” pelo muro poente na sequência da cota superior do arruamento.

Estruturalmente contíguos ao alçado sul da habitação, encontram-se os elementos destinados aos apoios agrícolas da quinta: o sequeiro, o palheiro e as cortes de animais. 

Implantado em extensa planta retangular, contiguo à habitação e em alvenaria de granito, o sequeiro abre-se sobre eira a sul desenvolvendo-se em vãos de grandes dimensões no piso térreo, e vãos de proporção mais reduzida no andar. Remata-se em cobertura de apenas uma água com revestimento em telha cerâmica.

Perpendicular ao sequeiro e paralelo ao arruamento surge o palheiro, com estrutura em granito e área ampla no piso térreo com pilares de granito que sustentam o andar. O piso superior recorre a estrutura de madeira rematada em cobertura de duas águas. Destinado ao armazenamento dos alimentos de animais, o andar é encerrado com ripas de madeira permitindo a ventilação do compartimento.

Ainda no alçado sul do elemento principal da habitação, implanta-se a nascente o compartimento que possivelmente seria destinado às cortes de animais. De planta retangular e perpendicular, à habitação estrutura-se em granito em piso terro longitudinal com cobertura de três águas telhadas.

A quinta da Igreja, ou casal de dentro da Igreja, em Fermentões (Santa Eulália) era propriedade do Priorado da Colegiada em Guimarães, com privilégio do número das tábuas vermelhas, integrando o numeramento de D. Afonso V, (confirmação dos privilégios por carta de 21-07-1455)[1].

O domínio útil encontrava-se emprazado a lavradores, representados na segunda metade do século XVI por Sebastião Gonçalves, lavrador e sua mulher Ana Luís, segunda e terceira vidas no prazo.

Com reserva na propriedade vivia Catarina Álvares, a «caseira», falecida no mês de junho de 1592, provável mãe e sogra dos anteriores «(…) disseram-lhe sete missas ao dia e deram-lhe uma oferta (…)».

Sebastião Gonçalves e Ana Luís dotam o casal a sua filha Ana Luís, em 15 de março de 1594, para casar com Salvador Gonçalves, nascido no casal do Bairro, Fermentões (Santa Eulália), filho de Amador Gonçalves, senhor de um dos domínios úteis do casal do Bairro e de sua mulher Catarina Anes.

Como salvaguarda da sua velhice «(…) reservam eles dotadores para si em suas vidas de ambos os dois a metade dos usos e frutos do seu casal e por morte de qualquer deles o terço e todos comerão no dito Assento e não se havendo bem se partirão de permeio e mais lhe dotam a metade das vacas com a metade dos filhos que são do monte e a metade de todas as ovelhas e porcos tirando o melhor corpo que tem  e um bácoro e mais a metade das cubas e caixas e arcas ferramenta e apearias que tem no dito seu casal (…)» (AMAP: Cota Antiga N-77, fls. 52 a 53 v).

Salvador Gonçalves e Ana Luís recebem-se em Fermentões a 14 de setembro do mesmo ano. Em 15 de março de 1599 faleceu Salvador Gonçalves, deixando a esposa com duas filhas menores, a mais nova Maria Luís, batizada dias antes a 3 do mesmo mês. Permanecerá Ana Luís no estado de viúva até sua morte em 07 de agosto de 1647.

Em 09 de junho de 1603 Ana Luís, já viúva de Salvador Gonçalves, enjeita perante o cónego António Gomes, procurador do Dom Prior Dom Alexandre, o direito que tem no novo prazo, para se fazer novo prazo, para que ela seja primeira vida, e segunda vida numa das filhas dela e de seu marido. A vedoria do prazo realizada a 06 de janeiro de 1603 descreve o conjunto edificado do casal «Item, primeiramente uma casa cozinha em que ora mora Ana Luís, viúva, a velha e mãe da emprazadora; Item, um quinteiro com uma corte tudo cerrado que serve tudo de gado; tem, outra casa junto a ele que serve de palheiro; Item, uma casa em que mora a dita emprazadadora e junto a ela a casa do lagar e adega e arriba do lagar, outra corte de gado o que tudo está serrado de per si (…)» (AMAP: C-933f, fl. 183 v).

Sucedeu no domínio útil da propriedade a filha destes, Maria Luís, nascida no Assento da Igreja, batizada a 03 de março de 1599, aí falecida a 04 de fevereiro de 1673. Casou na igreja paroquial de Fermentões (Santa Eulália) a 21 de janeiro de 1626, com Domingos Fernandes, falecido no Assento da Igreja a 22 de outubro de 1680.

Herdou a propriedade a filha mais nova destes, Margarida Luís, nascida no Assento, batizada a 23 de fevereiro de 1636, aí falecida a 01 de fevereiro de 1672, com testamento. Casou duas vezes, a primeira a 10 de janeiro de 1667 com João da Silva, natural de São Torcato. Casou segunda vez a 15 de março de 1670 com Domingos Gomes, natural de São João de Ponte, filho de Francisco Gonçalves e de sua mulher Senhorinha Gomes.  

Margarida Luís teve uma filha única, Maria Luís da Silva, herdeira do casal do Assento, aí nascida, batizada a 16 de junho de 1668 e falecida a 10 de julho de 1729. Casou na Igreja paroquial de Fermentões (Santa Eulália) a 14 de outubro de 1680, com António Francisco, nascido no casal do Rio de Selho, em Creixomil (São Miguel), batizado a 11 de novembro de 1663, falecido na cadeia da Correição, na Vila de Guimarães, a 20 de abril de 1722, filho de Jacinto Gonçalves e de sua mulher Ana Francisca, lavradores, senhores do domínio útil do casal do Rio de Selho.

O Dom Prior Pedro de Sousa fez-lhes novo prazo, lavrado pelo tabelião Jorge Lobato da Cruz, a 28 de maio de 1683. Neste prazo dá-se um abatimento da renda de um alqueire de trigo, um carro de lenha e dois frangos, em virtude de se desanexar ao casal terra para fazer a residência e horta do reverendo abade, conforme escritura e termos feitos por António Rebelo e Paulo Gomes, notários apostólicos em Guimarães, a 2 de maio de 1674 (AMAP: P-838, fl. 77 v).

Seguiu a propriedade útil do Assento da Igreja pelo filho destes, Francisco Luís da Silva, nascido no casal do Rio de Selho, em Creixomil, batizado a 17 de fevereiro de 1692, falecido no Assento de Fermentões (Santa Eulália) a 21 de agosto de 1749. Casou a primeira vez em Silvares (Santa Maria) a 16 de agosto de 1724 com Maria Vaz, nascida no casal de Ardão, filha de Domingos Vaz e de sua mulher Maria Martins, senhores do domínio útil do casal do Ardão. Casou segunda vez a 12 de setembro de 1749 com Maria Freitas de Sousa, nascida no casal do Gavinho, freguesia de Atães (Santa Maria), filha de António de Freitas e de sua mulher Isabel Dias.

Não teve geração sobreviva de ambos os casamentos, deixando em testamento o seu casal do Assento ao irmão João Luís da Silva, nascido no casal do Rio de Selho, Creixomil (São Miguel), batizado a 12 de dezembro de 1688.

Pese embora a nomeação testamentária, o prazo seguinte do Assento é realizado na viúva de Francisco Luís da Silva e em seu segundo marido, que, provavelmente adquiriam a propriedade ao herdeiro do marido, ou a reclamou judicialmente.

O novo prazo é realizado pelo cabido da Colegiada Prelatiali Vaccante em 06 de setembro de 1753, nas vidas de Domingos Ribeiro e de sua mulher Maria de Freitas e Sousa. Haviam casado em Fermentões (Santa Eulália) a 11 de maio de 1752, sendo ele esposado, filho de Francisco Ribeiro e de sua mulher Domingas Francisca, caseiros no Assento de Ponte (São João).

Sucedeu-lhes seu filho Manuel Ribeiro, nascido no casal do Assento a 08 de dezembro de 1753, aí falecido a 27 de novembro de 1807. Casou em Ponte (São João) a 28 de maio de 1777 com Antónia Maria de Castro, nascida no casal do Porto, Ponte (São João) a 24 de janeiro de 1748, falecida no casal do Assento, Fermentões (Santa Eulália), a 04 de novembro de 1836, filha de Jerónimo Dias de Castro e de sua mulher Jerónima Lopes Machado, senhores do domínio útil do casal do Porto, Ponte (São João).

O novo prazo será realizado pelo Dom Prior Luís Saldanha de Oliveira, em escritura pública de 07 de julho de 1814, lavrada pelo tabelião Paulo Pereira Guimarães, ao filho dos anteriores caseiros, Jerónimo Ribeiro, nascido no casal do Assento a 10 de maio de 1792, aí falecido a 24 de setembro de 1858. Casou em Fermentões (Santa Eulália) a 02 de agosto de 1824, com Ana Maria Pereira, filha de Gabriel Pereira e de sua mulher Custódia Maria.

A vedoria deste prazo, datada de 03 de junho de 1814 descreve o circuito do edificado «(...) Item, o Assento deste casal que se compõe de umas casas meias sobradadas e meias terreas e no sobrado tem sala com sua varanda para cima da eira que lhe fica a sul e porta para a mesma varanda e na loja porta que sai para a eira e a terrea serve de cozinha e tem porta para o norte e sul e defronte destas para o norte tem a casa de lagar de pedra e sua adega colmaça e cortes de gado que chegam até ao portal entrada deste eido, e para nascente tem um corrente de casas telhadas uma que serve de recolhimento e reserva da mãe do caseiro sobradada com porta para a eira no sobrado e na loja porta para o nascente e outra casa terrea que também serve de cozinha e uma corte pegado; entre as casas de sobrado e a adega corre o quinteiro ou estrumeira com sua lata e no fim dele para o norte fica o portal de pedra com suas portas pintadas de vermelho com seu coberto telhado viradas ao mesmo norte e na eira tem outras portas pintadas a vermelho porque para ela se entra e para o nascente portas das segundas casas; se segue o pomar com árvores de fruto, uveiras e oliveiras a que se segue o rossio de fronte (…)» (AMAP:C-1012 fl. 11 v a 15).

[1] D. Afonso V, por carta de 21-07-1455, ordenou que se fizesse um rol de todas as propriedades privilegiadas desde o tempo de D. João I e de seus possuidores, o qual encadernou em tábuas vermelhas Vid pág. 184 Pachecos Subsídios para a sua Genealogia de Abílio Pacheco (1985, Ed. Gráfica Portuguesa).