A Quinta do Paço, atual propriedade da Fundação Casa do Paço, localiza-se na zona nascente da freguesia, em vale de características predominantemente agrícolas. A quinta é circundada a norte e nascente pela Rua Arcebispo António Castro Xavier Monteiro, estendendo-se a sul por área agrícola. É constituída por casa principal, sequeiro e espigueiro, sendo garantido o acesso por portal a nascente pelo arruamento envolvente.

O edifício principal da propriedade apresenta uma implantação em “U” aberto a nascente para jardim que se prolonga até às estruturas de sequeiro e espigueiro. Desenvolve-se em volume contínuo de dois pisos em alvenaria de granito regular. Caracteriza-se por cobertura telhada de várias águas em toda a sua extensão. Genericamente, as janelas existentes são verticais e retangulares, exibindo sistema de guilhotina. O destaque vai para o alçado sul onde uma varanda e quatro pilaretes em granitos denotam intervenções mais recentes.

Implantado a nascente da casa principal, perpendicular ao arruamento de acesso à propriedade, o sequeiro desenha-se em planta retangular e é composto por alvenaria de granito, de dois pisos, com as aberturas voltadas a sul para extenso eido, separadas por quatro colunas, com vãos encerrados em chapa pintada. A cobertura de quatro águas é revestida a telha. A poente no prolongamento desta estrutura, possivelmente resultante de uma intervenção posterior, surge um elemento anexo de apoio as atividades agrícolas. Exibe estrutura em madeira e aberturas em ripado de madeira rematando com cobertura de duas águas telhada.

Junto ao sequeiro e paralelo ao arruamento, o espigueiro é composto por base estrutural em maciço de granito regular granito, por dois módulos em ripado de madeira, terminando com cobertura de quatro águas em telha.

A quinta do Paço em Airão (São João), desde tempos remotos, é terra honrada, onde está proibida a entrada de oficiais do rei, isenta de justiça régia (exceto pena maior) e de encargos à corroa (fisco).

Nas inquirições de 1258 fala-se da «(…) honor vetus dominj Roderici Ualasci (…)» ou seja, de uma honra velha pertença de Rodrigo Vasques. Este Rodrigo Vasques, donatário da honra de Airão, com assento no seu Paço de Airão, era bisneto de Nuno (Fernandes) de Cela Nova (1063-1108) casado que foi com Sancha Gomes de Sousa, donatários da mesma, que a legaram a seu filho Sancho Nunes (1109-1169), segunda vez casado com Teresa Mendes de Riba Douro (1170-1220), pais do Conde Vasco Sanches (1148-1182), casado com Urraca Viega, de Tulas, pais, por sua vez do citado Rodrigo Vasques (Silva: 2000, pp. 37-40).

Nas inquirições de D. Dinis, em 1290, pode ler-se relativamente à freguesia de São João de Airão …

«Item freguesia de sam Johane d’Ayram o paço dairã que foy de dona chamoa gomez com toda a ffreguesia (…) e mandoua ao moesteiro de samtotisso e trouzea assy per honrra o moesteiro emprazoua a Gomez ffernamdez do uale e tragea assy per honrra (…)» (Silva: 2000, pp. 40-41).

Dona Chamoa Gomes herdara a honra do Paço de sua mãe Teresa Roiz, filha de Rodrigo Vasques, atrás nomeado, e havia casado com Gomes Soares de Tougues. Estes, por contrato de doação e escambo de 12 de agosto de 1253, cedem ao Mosteiro de Santo Tirso, no temporal e espiritual, todos os bens que possuíam nos Coutos de Airão e de Lanhas, ou seja, doam não apenas as propriedades, mas também o direito de padroado que detinham sobre as igrejas. Em contrapartida, recebiam do dito mosteiro, em sua vida apenas, tudo o que estes possuíam em São João da Foz e Novegilde, uma herdade existente em Santa Marinha da Pedreira, em Unhão, e o casal de Vilarinho, com todas as suas pertenças, reservando o Mosteiro o seu direito de padroado sobre estes locais (Silva: 2000, pp. 43-44), (Correia: p. 316, Apêndice III, doc. 56, p. 192).

Senhor da quinta do Paço, o Mosteiro de Santo Tirso empraza a propriedade a Gomes Fernandes do Vale, como o indicam as inquirições de 1290 (VMH, pp. 347 e 382).

Posteriormente, o abade de Santo Tirso e seu convento emprazam a Rui Martins de Nomães, alferes-mor do infante D. Henrique de Castela, a Quinta de Airão, em Airão (São João), Guimarães, com todos os seus direitos, menos o padroado de São João de Airão, ou seja, cabia ao Mosteiro a apresentação do pároco, mais toda a colheita e serviço dessa igreja, na era de 1343, ano de 1305 (Correia: p. 344, Apêndice III, doc. 92, p. 221).

Em 29 de outubro de 1336 o Mosteiro de Santo Tirso inicia um libelo contra Senhorinha Rodrigues, viúva de Rui Martins de Nomães, que se apossou indevidamente do prazo da quinta de Airão, uma vez que o prazo realizado em 1305 contemplava apenas a vida de seu marido.

Em sentença de 09 de novembro de 1339, o juiz de Guimarães, Geraldo Esteves, decide em favor do Mosteiro, declarando a posse das quintãs de Airão e Riba d’Ave, e de outros casais de São João de Raiva, por posse clandestina.

Fruto da sentença, o Mosteiro e a viúva Senhorinha Rodrigues, chegam a um acordo no qual, esta «(...) Confessaria, pelo seu procurador, o perigo em que estava a sua alma, e a má-fé com que tinha procedido. E para ressarcir os danos que tinha causado ao nosso Mosteiro, na demanda, e os frutos e dinheiro que tinha recebido, declarou que doava a este Mosteiro um casal que tinha em S. João da Raiva e que ela o desfrutaria em sua vida, reconhecendo ao Mosteiro por direito senhorio, com renda de um capão e uma galinha e cinco libras em dinheiro» (Correia: Apêndice I, Tabelas, p. 42).

Em 29 de janeiro de 1342, o abade D. Lourenço Geraldes faz prazo da quinta de Airão, com todas as suas pertenças, exceto o padroado da igreja e colheitas dela, pousada e todos os seus direitos, a Pedro Coelho e sua mulher Aldonça Vasques, último donatário do Couto de Lanhas (Correia: Apêndice I, Tabelas, p. 32).

No mesmo ano, o abade de Santo Tirso, de modo a evitar demandas com os caseiros, decide escambar a Quinta de Airão pela de São Mamede de Coronado, propriedade do mesmo Pedro Coelho, repondo a condição alodial, cuja condição de honra havia sido confirmada nas inquirições de 1308, deixando de o ser outros casais da freguesia na sua dependência (Silva: 2000, pp. 44-45).

A sequência de donatários da quinta de Airão que se segue colhe-se da obra do Padre Hilário de Oliveira e Silva, Monografia de Airão.

 Pedro Coelho (1342-1357) era filho de Estêvão Pires Coelho, patrono do Mosteiro de Grijó e de sua mulher Maria Mendes Petite. Como foi envolvido no assassinato de D. Inês de Castro, perderá todas as suas propriedades por carta régia de 08 de outubro de 1357, concedendo os seus bens a Vasco Martins de Sousa, que possuiu a propriedade apenas em sua vida, uma vez que D. João I irá restituí-la à geração de Pedro Coelho, em seu filho, Gonçalo Pires Coelho.

Gonçalo Pires Coelho (1383-1417), depois do exílio em Castela, regressou a Portugal, colocando-se ao serviço de D. João I, que reabilitou a sua geração e lhe fez doação de Felgueiras, Vieira, e a quinta de Airão, por mercê dada em Guimarães a 29 de maio da era de 1423 (ano de 1385). Casou com Maria Álvares, sucedendo-se na casa seu filho Fernão Coelho.

Fernão Coelho (1417-1447), filho herdeiro dos anteriores, foi o 2º donatário de Felgueiras, Vieira e senhor da quinta de Airão, por carta régia de 2 de maio de 1433. Foi alcaide-mor de Guimarães, tendo casado com Catarina de Freitas, filha de Martim de Freitas.

Sucedeu-lhes como proprietário da quinta de Airão seu filho, Martim Coelho, 3º donatário de Felgueiras e Vieira, mas porque tomou parte pelo lado de D. Pedro, em Alfarrobeira, contra D. Afonso V, será desterrado para o Norte de África e deserdado.

Após o confisco, os seus bens são entregues a Gonçalo Pereira, que manterá a propriedade, pese embora os Coelhos sejam perdoados, tendo recuperado os senhorios de Felgueiras e Vieira, o mesmo não aconteceu com a quinta de Airão que permaneceu na mão dos Pereiras.

Gonçalo Pereira era filho de João Álvares Pereira, senhor da terra da Feira e de sua mulher, que, com seu irmão, Fernão Pereira, participou em Alfarrobeira ao lado de D. Afonso V. Como recompensa dos seus serviços, o monarca doou-lhe os bens confiscados a Martim Coelho, entre os quais a quinta de Airão, por carta régia de 11 de junho de 1449. Faleceu em 1451, sem ter usufruído os rendimentos das novas propriedades. Sem descendência, os seus bens serão distribuídos entre Fernão Coutinho e Martim Mendes Barredo, cabendo a este a quinta de Airão.

Martim Mendes Barredo era filho de Gonçalo Pereira “o das Armas”, e de sua mulher Brites de Vasconcelos, casado com Mécia de Albuquerque, sobrinha do anterior proprietário, Gonçalo Pereira, filha de seu irmão Fernão Pereira. Valido d’El Rei D. Afonso V, será agraciado por carta régia de 15 de janeiro de 1452 com a quinta de Airão e outros bens confiscados aos Coelhos, senhores de Felgueiras e Vieira. Faleceu três anos após o casamento, sem herdeiros forçados. A viúva recebeu do monarca uma tença de 23.000 reais brancos sobre os bens doados ao marido.

Sucederá na propriedade da quinta de Airão, Fernão Pereira, sobrinho dos anteriores, filho de João Mendes e de sua mulher Isabel Pereira, irmã de Gonçalo Pereira, “o das Armas”. Foi senhor de Castro Daire, por carta de 04 de julho de 1449 e, por falecimento de seu tio Gonçalo Pereira, senhor da quinta de Airão. Foi cavaleiro fidalgo da casa do duque de Bragança e alcaide-mor do castelo de Guimarães, onde vivia em 1461. (Silva: 2000, pp. 45-49).

Sucedeu na quinta de Airão o filho deste, João Pereira, 2º senhor de Castro Daire, com suas jurisdições, confirmadas por El Rei D. Manuel, por cartas de 10 e 15 de maio de 1510 e 12 de abril de 1512. Casou com Maria de Castro, filha de Fernão de Sousa (Chichorro), 1º senhor de Gouveia e Riba Tâmega, e também alcaide-mor de Guimarães, fundador da capela de Nossa Senhora das Angústias do claustro do Convento de São Domingos, a qual serviu mais tarde de Casa Capitular.

João Pereira no seu testamento datado de 11 de junho de 1526, e lavrado nas notas do tabelião Jerónimo de Barros da vila de Guimarães, institui o morgado de Airão, vinculando a ele os seus bens, o qual «(…) por seu falecimento, o haveriam e possuiriam em todas as suas vidas os senhores Diogo Lopes de Lima, seu genro, com sua mulher a senhora D. Isabel de Castro, filha dele testador (…), e depois da morte de ambos, o dito morgado, com seus bens, rendas e encargos, o teria in solidum seu neto Fernando de Lima Pereira, sendo vivo. Se falecesse, porém, em vida de seus pais, o haverá algum filho legítimo varão (…)» (Silva: 2000, p. 52).

A encabeçar este rendoso morgadio estava a quinta de Airão, com todos os seus foros e propriedades, a saber: o casal de Lanhas e o de Ferreiros sitos em Santa Maria de Airão; a quebrada de Gonçalo de Roupeiro, os casais da Pereira, a quinta de Fontes, no termo de Corvião, estas na freguesia de Airão (São João); os dois casais da Portela, na freguesia de São Martinho de Leitões, e outras herdades em Castelões (São Tiago), Famalicão e outras quintas e propriedade no termo de Bacelos. Impôs aos administradores do morgado o cumprimento de quatro missas anuais no valor de quatro mil réis, rezadas pelos Monges de São Domingos.

Como principais cláusulas desta instituição, João Pereira determinou a obrigatoriedade de este correr nos apelidos Pereira, ou Lima Pereira; a sua indivisibilidade, a exclusão na sucessão de clérigos, freiras, ou qualquer religião ou profissão, com a exceção das Ordens de Cristo, Santiago e Avis e, por último, a sua indivisibilidade por qualquer via. No decurso dos séculos estas determinações acabaram por não ser cumpridas, frutos de diversos constrangimentos, impostos aos administradores.

Assim, a sucessão fez-se como determinação do instituidor por Diogo Lopes de Lima, genro do instituidor, casado com D. Isabel de Castro, filha de João Pereira e de sua mulher D. Maria de Castro. D. Diogo Lopes de Lima era filho de Fernando Anes de Lima e de sua mulher D. Constança da Silva de Andrade, e foi alcaide-mor de Guimarães, cavaleiro fidalgo do conselho de D. João III. Já se encontravam casados quando a 07 de novembro de 1522, Diogo Lopes de Lima alcançou a renda de 22.000 reais de foro cada ano, pelo senhorio de Castro Daire, que coube a sua mulher Isabel de Castro, por falecimento sem geração de seu irmão Diogo Pereira. Esta recebe confirmação do senhorio de Castro Daire e do morgadio de Airão, por cartas régias de 23 e 24 de janeiro de 1528.

Fernando de Lima Pereira, filho dos anteriores, foi 4º senhor de Castro Daire e 2º administrador do morgado de Airão, alcaide-mor de Guimarães e comendador de Garfe na Ordem de Cristo. Serviu na Índia em 1532 e 1537, aí falecendo em 1530. Casou com D. Francisca de Vilhena, e sucedeu-lhe seu filho, que segue.

Diogo Lopes de Lima Pereira, filho dos anteriores, tal como seu pai, serviu na Índia, com o despacho de Moluco, e tornando ao reino fixou-se em Guimarães e foi mordomo d’El Rei D. Sebastião, a quem acompanhou na jornada de África, aí falecendo. Casou com D. Helena de Sousa, filha de Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil, e de D. Catarina da Costa. Foram os últimos administradores do Morgado de Airão a residir em Guimarães. Não teve descendência.

D. Isabel de Castro, irmã primogénita do anterior, sucedeu-lhe na administração do Morgado de Airão, mas não lhe coube o senhorio de Castro Daire. Casou com Jorge de Lima, seu parente, de alcunha, o Calicute, por participar no cerco daquela cidade em 1525. Foi capitão-mor de Lisboa, comendador de Vila Cova e Penagarcia, na Ordem de Cristo, tendo também a alcaidaria-mor desta.

Francisco Barreto de Lima e Herrera, filho dos anteriores, sucedeu na posse do morgado de Airão e faleceu em 12 de agosto de 1599. Casou com sua prima, D. Isabel Pereira de Lima, filha de D. António de Lima e de D. Jerónima de Albuquerque, que, falecendo sem geração, fazem seguir o morgado em seu sobrinho, que segue.

Jorge de Mascarenhas, filho de Francisco de Mascarenhas e de D. Jerónima de Castro, nasceu cerca de 1570. Foi conde de Castelo Novo e 1º marquês de Montalvão por El-Rei Filipe IV. Era vice-rei do Brasil aquando da Restauração de 1640. Após ter recebido várias mercês de D. João IV, foi preso por suspeita de inconfidente no castelo de São Jorge, onde faleceu a 01 de janeiro de 1652.

Sucedeu-lhe o primogénito Francisco de Mascarenhas, 2º conde de Castelo Novo, foi morto em Mazagão pelos mouros, em 1640, sem descendência.

O secundogénito foi Pedro de Mascarenhas que, depois da Restauração, foi para Castela onde se intitulava «marquês de Montalvão, conde de Castelo Novo. Senhor de Airão e Canelas, e do mordomado e direitos reais da cidade de Faro». Casou com Maria Zapata e Silva 5ª condessa de Barajas e de Corogna, e 4ª marquesa de Alameda, 1ª viscondessa de Torija, em Castela.

O terceiro filho, Fernando de Mascarenhas, morreu de uma queda em outubro de 1645, deixando a sua mulher D. Leonor Maria de Meneses, um varão, herdeiro da casa e morgados de seu pai e avô, que se segue.

Jorge Luís de Mascarenhas, 2º conde de Serém (1643) e marechal do Reino (1650), morreu novo, sem geração, mudando de linha, uma vez mais, o morgado de Airão.

As memórias paroquiais de 1758, documentam o seguinte relativamente ao morgado de Airão «(…) é muito antigo de que hoje é administrador o Conde Avintes, por óbito da Condessa de Alcudia e Marquesa de Fonte em Sol, do reino de Castela, (…)» (ANTT: Dicionário Geográfico, V, nº 90, fl. 1113 v).

Em 20 de março de 1800 era administrador deste morgado D. António Máximo de Almeida Portugal Soares Alarcão Melo Ataíde Eça Mascarenhas Silva e Lencastre, 3º marquês do Lavradio e 5º Conde de Avintes, nascido em Lisboa, na freguesia de Santa Engrácia, a 01 de outubro de 1756, falecido em Paris em 04 de maio de 1833, filho de D. Luís de Almeida Soares Portugal, 2º marquês do Lavradio e de sua mulher Dona Maria Ana Teresa Rita da Cunha.

Séculos se passaram sem que a quinta de Airão visse entrar nos seus portões os senhorios plenos, administradores do morgado de que era cabeça. Ocupam-na caseiros e sobretudo os rendeiros que contratavam as rendas deste morgado. Exemplo disso, um contrato de trespassação de arrendamento realizado a 19 de janeiro de 1604 nas pousadas de Sebastião Veloso, advogado na vila de Guimarães. Aí compareceram «(…) Francisco Nunes Xavier mercador morador na cidade do Porto por ele foi dito que ele trazia o arrendamento da mão de Dona Jerónima de Castro Lima Pereira, mulher de Dom Francisco de Mascarenhas o morgado de Airão com todas as coisas ao dito morgado tocantes por tempo de dois anos em que tinha a metade do arrendamento Fernão Lopes morador na cidade de Lisboa e ele como seu procurador tinha poder de trespassar o arrendamento da parte do dito Fernão Lopes e o trespassou a António Machado de Miranda morador em Joane (…)». Não raras vezes estes rendeiros tinham assento nas casas do Morgado.

Em 03 de setembro de 1601 Pedro Marques Salgado «(…) morador numa casa da quinta do morgado de Airão São João (…)», provável caseiro, faz uma procuração a seu cunhado, António Vaz (AMAP: Cota Antiga, Notarial nº  53, fl. 165 e v).

São estas gentes que constituem a força da propriedade, melhorando-a, benfeitorizando e produzindo, para renda e garbo dos seus senhores, enquanto lutam para sobreviver.

O Assento da quinta e casa do Paço, encontrava-se arrendada e depois emprazada, na segunda metade do século XVII, a Tomás Ferreira da Maia, mercador da vila de Guimarães, daí natural, casado cerca de 1670 com Margarida da Costa, filha de Bento de Oliveira e de sua mulher Mariana da Costa.

  Bento de Oliveira, sapateiro, “o caruncho” de alcunha, natural de Mascotelos, e genro de Tomás Ferreira da Maia, faleceu nas casas do Paço a 19 de agosto de 1680 «(…) não lhe dei mais sacramento do que a extrema-unção por não achar capaz para mais e estar sem juízo há anos foi sepultado na capela do Morgado desta freguesia, seu filho Francisco da Costa mandou recado geral a todo o clérigo que quizesse vir acompanhá-lo, dizer nesta, ofício, lhe daria de esmola 150 reis e almoço e se ajuntaram 34, e por desejar que fossem mais e não virem, lhe mandou pagar a 200 réis e de oferta deu 1200 réis (…)» (AMAP: P-19, fl. 51, nº  2).

Tomás Ferreira da Maia havia nascido na Rua Travessa de São Sebastião, em Guimarães, batizado a 07 de março de 1644, e era filho de José Martins, cutileiro, natural do lugar do Cabo, da freguesia de Sande (São Lourenço) e de sua mulher Maria Vieira “a broa”, natural da casa das Gaias, em Sande (São Martinho). Faleceu na quinta do Paço a 27 de fevereiro de 1733, tendo realizado testamento a 24 de maio de 1729. Nele deixa por testamenteiro seu filho, o padre Tomás Ferreira da Maia, declarando que quer que seu corpo seja sepultado na capela-mor do Morgado do Paço, com licença de Braga, e «(…) enquanto viver meu testamenteiro me mandará dizer pelo capelão da capela que de presente servir um responso sobre minha campa todas as missas que dizem cada semana e deixa de esmola pelos ditos responsos cinco mil réis (…)».

Através deste mesmo documento, também se explica a relação deste mercador com os senhores e administradores do Paço de Aldão, ao declarar que ele testador «(…) conseguiu as mercês dos administradores deste morgado de Castela e de Portugal em mediato e juntamente de sua Majestade que Deus Guarde; e nestes requerimentos andou nove ou dez anos pouco mais ou menos tendo em Lisboa dois solicitadores e amigos com que dispendeu vários mimos de que tudo o meu filho João Ferreira da Costa sabe o custo que o prazo tem feito e poderá dar a metade a meu testamenteiro e fio ou dele queira comer o de seus irmãos que eu para desencargo de minha alma consciência o declaro. Aqui declaro mais dito testador que mandou fazer umas casas sitas no fim do campo do Covelo, as quais ditas casas não estão metidas no prazo por não estarem feitas, e nestes termos não tem o dito João Ferreira nela nada e são livres e isentas dele testador as quais ditas casas custaram de pedraria quatrocentos mil réis entrando as paredes de fora do campo do Pombal e as madeiras saíram da quinta e mais petrechos em que se fez o prazo, e deixo a meu testamenteiro que quando seu irmão João Ferreira da Costa reporte a dar o valor delas, descontarão o que lhe toca, se meta de posse delas dando-lhe o que lhe tocar fazendo prazo delas com foro ao Morgado (…)».

Por último declara que «(…) tinha feito um prazo nesta quinta em que é primeira vida seu filho João Ferreira da Costa e como não estava aconselhado, o que nele podia fazer, de minha livre vontade sem constrangimento algum a quem nomea no dito prazo em todo ou parte dele todo aquele que o direito lhe der, em seu filho Reitor de Lamas, e no caso que morra antes de seu falecimento, nomeava em seu lugar a seu sobrinho Francisco da Costa Araújo em Guimarães por herdeiro, e não testamenteiro (…)».

Ao que parece, o Reitor de Lamas, Tomás Ferreira da Maia, ainda que possa ter encabeçado o prazo da quinta do Paço de Airão, nunca aqui residiu, pelo contrário, foi seu irmão, João Ferreira da Costa que aqui morou. Nascido na Rua das Molianas, São Sebastião a 23 de junho de 1689 (AMAP: P-443, fl. 169, nº 1), casou em São Sebastião, Guimarães, a 09 de agosto de 1747 (AMAP: P-459, fl. 78 v, nº 1) com D. Antónia Josefa de Sousa Rego, nascida em São Sebastião, Guimarães, a 17 de março de 1724, filha legitimada de Miguel de Sousa Rego, cavaleiro da Ordem de Cristo e de Guiomar Luísa de Sousa, solteira[1].

João Ferreira da Costa faleceu na quinta do Paço em 05 e outubro de 1757 (AMAP: P-20, fl. 63, nº 1), com testamento datado de 17 de agosto de 1757. De sua mulher não teve descendência, contudo, teve de várias mulheres da freguesia diversos filhos, e uma filha que dotou para casar no casal de Roupeiro. Aos rapazes pagou-lhes o frete para o Brasil. Instituiu como sua herdeira universal sua mulher «(…) e nela nomeio todos os meus prazos nas vidas em que estiverem, ou na renovação deles, e quero que ela sempre os haja, e possua (…)» (AMAP: P-26, fl. 52 v, nº 1).

Dona Antónia de Sousa Rego faleceu no Paço, viúva, a 04 de junho de 1795, com testamento (AMAP: P-21, fl. 100, nº 2).

Segundo refere o padre Hilário de Oliveira, «(…) nos finais de setecentos, a casa do Paço, desvinculou-se do morgadio de Airão, de que foi cabeça, por outorga do 4º conde de Avintes, então possuidor e administrador do mesmo, em favor de João Luís do Couto Alão, seu procurador, natural e morador no Porto, capitão de Milícias e cavaleiro da Ordem de Santiago. Em 11 de maio de 1790, a Rainha D. Maria I deu carta de brasão a esta casa, o qual ainda hoje encima garbosamente o portal da mesma. Nele estão esculpidas as armas da família: um escudo partido em pala, representando-se na 1ª, as armas dos Coutos (um castelo), e na 2ª, as dos Alões (um trifólio verde)». (Silva: 2000, pp. 66-67).

Ao que parece, este processo começa em 1788 quando o Conde de Avintes e Marquês do Lavradio, D. Luís de Almeida Portugal Soares de Alarcão d'Eça e Melo Silva Mascarenhas (1729-1790), senhor do Morgado de Airão, faz prazo do Paço de Além em Airão (São João), a António Luís do Couto Alão, clérigo diácono, nascido no Porto a 17 de julho de 1779, filho do capitão João Luís do Couto Alão, procurador do mesmo, para constituir património para professar no Real Mosteiro de São Jerónimo de Lisboa[2].

  O capitão João Luís do Couto Alão nasceu em Santo Ildefonso a 28 de junho de 1738, casou a 30 de abril de 1760 com Ana de Jesus Maria, filha de José Ferreira e de sua mulher Ana Francisca. Fez testamento em mão comum com sua mulher, aberto a 13 de outubro de 1807 (AMP: A-PUB/2273, fls. 248-250).

Além de António Luís do Couto Alão, o casal teve, entre outros, Dona Ana Felizarda Xavier do Couto Alão, nascida a 26 de junho de 1767, que casará com o capitão João Xavier de Oliveira Barros Leite, filho legitimado do reverendo Francisco Xavier de Oliveira Barros Leite, pároco de Santa Maria de Viade, concelho de Basto e de Rosa de Campos, solteira, da mesma freguesia. Estes recolhem-se após o casamento na propriedade do Paço, em Airão, domínio útil do irmão de Ana, onde têm a prole.

Entretanto, junta-se-lhe António Luís do Couto Alão, que abandonou o Mosteiro de São Jerónimo, antes mesmo da extinção das Ordens Religiosas (1834). Faleceu na sua casa do Paço em 21 de junho de 1831, instituindo como seu herdeiro universal António Álvares Monteiro, casado com sua sobrinha D. Maria Engrácia Xavier Monteiro, filha de sua irmã D. Ana Felizarda Xavier.

D. Maria Engrácia Xavier Monteiro, herdeira com seu marido, por testamento de seu tio da casa do Paço, nasceu aí a 03 de novembro de 1798 (AMAP: P-23, fl. 81 v-82, nº 1) e faleceu a 13 de dezembro de 1861 (AMAP: P-21, fl. 143, nº 10). Casou na freguesia de sua naturalidade a 25 de agosto de 1825 (AMAP: P-21, fl. 47, nº 1) com António Álvares Monteiro, lavrador proprietário, nascido no lugar de Joane, Joane (São Salvador) a 27 de julho de 1800 (ADB: B-155, fl. 86, nº 1). Este era filho legítimo de Domingos Álvares, e de Teresa Maria Monteiro da freguesia de São Salvador de Joane; neto paterno de Domingos Álvares e de sua mulher Jerónima Francisca; neto materno de Luís Monteiro e de sua mulher Maria da Silva, ele natural de Ruivães (São Salvador), ela de Portela (Santa Maria), Vila Nova de Famalicão.

Sucedeu-lhes na propriedade da quinta do Paço sua filha, Dona Amélia Virgínia Xavier Monteiro, aí nascida a 23 de fevereiro de 1838 (AMAP: P-23, fl. 143 v, nº 3). Casou na paroquial de Airão (São João) a 12 de maio de 1858 (AMAP: P-21, fl. 59 v, nº 2) com Manuel Augusto da Silva, lavrador proprietário, filho de Sebastião da Silva e de sua mulher Ana Maria, da freguesia de Leitões (São Martinho).

Destes herdou a casa do Paço, sua filha Dona Emília Magno Xavier Monteiro, aí nascida em 31 de dezembro de 1863 (AMAP: P-24, fl. 39, nº  1), casada na freguesia de São Lázaro, Braga, a 05 de março de 1888 (AMAP: P- fl. 83 v, nº  9) com António Maria Ferreira Baptista, homem de negócios e proprietário, emigrado e enriquecido no Império do Brasil. Nasceu numa das casas de caseiros na quinta do Paço, onde seus pais eram lavradores caseiros (AMAP: P-24, fl. 9 v-10, nº  4) e era filho legítimo de Joaquim Ferreira Batista, lavrador caseiro na quinta do Paço, e de sua mulher Balbina Rosa da Cunha, natural de Travanca (São Salvador), Amarante. Era neto paterno de João Batista e de sua mulher Quitéria Maria e neto materno de José Ribeiro e de sua mulher Violante Maria, da freguesia de Travanca (São Salvador), concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega 

Continuou a propriedade da casa do Paço no filho destes, José Augusto Xavier Monteiro, aí nascido a 05 de junho de 1891 (AMAP: P-1737, fl.54 e v, nº 10), aí falecido a 06 de agosto de 1981. Casou em Joane (São Salvador) a 29 de agosto de 1912, com D. Maria das Dores de Castro Ferreira.

Foram pais, entre outros de Dom António de Castro Xavier Monteiro (1919-2000) que foi Arcebispo de Lamego.

[1] Posteriormente Guiomar Luísa de Sousa casou com Francisco da Costa de Araújo, filho natural do abade de Estorãos, o padre Manuel da Costa de Araújo, irmão inteiro de Margarida da Costa, mãe de João Ferreira da Costa, portanto seu primo.

[2] https://geneall.net/pt/forum/135733/re-a-origem-da-mulher-de-teofilo-de-braga/ consultado a 23-01-2021.