A Quinta de Sacoto fica localizada na extremidade nascente da freguesia de Guardizela. A propriedade é atravessada a nascente pela rua da Devesa, ficando os imóveis destinados a atividades agrícolas a norte e a casa principal a nascente.

A propriedade é constituída por casa principal, palheiro, arrumo agrícola e sequeiro. Implantada a meia encosta, a propriedade caracteriza-se pela sua grande extensão, dotada de áreas agrícolas e de excelente exposição solar. Aliás, o tom vernacular e profundamente orientado para a agro-pecuária domina esta quinta.

A casa principal, de planta em “L”, dispõe de palheiro e quinteiro a nascente onde ainda permanecem animais para criação e apoio nas atividades agrícolas. O acesso realiza-se a sul pela Rua da Devesa diretamente ao quinteiro. O alçado sul, praticamente cego, esconde a habitação para o seu interior voltada para o quinteiro. De construção em alvenaria de granito algo tosca, com as pedras das ombreiras e padieiras regulares, apresenta cobertura telhada em duas águas.

No prolongamento da casa principal, o palheiro abre-se para o quinteiro permitindo, assim, desempenhar a sua função eficazmente na alimentação de animais. Em granito e também telhado, compõe-se por estrutura em madeira superior sobre piso térreo para as cortes onde o gado pernoita, com aberturas para o quinteiro.

O sequeiro encontra-se solto da composição de volumes, implantado a nascente da casa principal e orientado a sul. É composto por dois pisos em alvenaria de granito telhado de duas águas.  Possui seis vãos com uma porta, para acesso ao piso superior, e uma janela nos alçados laterais.

A referência mais recuada à quinta de Sacoto data de julho de 1178, quando Fafia Godins e sua esposa Sancha Geraldes, trespassaram para o Abade D. Mendo, abade de Santo Tirso, e seu convento «(…) a herdade de Secoto, sita no lugar de Esperandeu, freguesia de Guardizela, abaixo do monte de S. Paulo, no território de Braga, com águas vertentes para o rio Vizela. Pagou o mosteiro cento e dois maravedis (Correia: 2008, pág. 304).

A propriedade correu pelos séculos aforada a lavradores de Guardizela, dos principais da freguesia. No início do século XVII residiam no Sacoto, Francisco Fernandes e sua mulher Margarida João[1] e Bento Gonçalves e sua mulher Catarina Gaspar[2],  desconhecendo-se se senhores do domínio útil dos dois prazos de Sacoto, o de Baixo e de Cima, ou se simples colonos de senhorios úteis.

É provável que, pelo menos uma destas propriedades se mantivesse ainda na posse de senhorios úteis que a exploravam diretamente, enquanto o outro domínio útil pertencia já a elementos da nobreza que o entregavam à exploração a colonos simples, tendo em conta que em 14 de fevereiro de 1682, falece em Sacoto Domingos Francisco, com ofício de corpo presente de dez padres, que no uso e costume da freguesia se destinava a Cabeceiras, ou seja, a cabeças de casal, individuo que encabeçava a vida no prazo (AMAP: P-353, fl. 73 v, nº 4).

No início do século XVIII um dos prazos e seu domínio útil ainda se mantinha em posse de lavradores, António de Carvalho e sua mulher Francisca Ribeiro (AMAP: P-354, fl. 138 v, nº 1).

Já o outro domínio era explorado por colonos simples, o que permite depreender que estaria já em mãos de elementos da nobreza, ou burguesia da vila. Eram esses colonos Custódio Fernandes e sua mulher Maria Álvares que a 27 de janeiro de 1716 se identificam como «(…) moradores em Socoto por caseiros (…)», entenda-se caseiros dos senhorios úteis. (AMAP: P-354, fl. 138 v, nº 1).

Estes dois domínios uniram-se no século XIX na posse dos senhores da quinta do Paço Meão, integrando o dote de casamento de Dona Maria do Rosário Correia da Cunha Vasconcelos, para casar com José Pinto de Sousa do Amaral e Freitas. Os foros foram remidos e a propriedade assumiu natureza de alodial.

É na condição de proprietária que do Dona Maria Rosário Correia da Cunha Vasconcelos embarga uma obra realizada pelos senhores da quinta de Cutiães declarando ela e seu marido «(…) são senhores e possuidores da sua quinta chamada Sacoto, sita na freguesia de Guardizela e de todas as suas pertenças das quais é o campo das Cortinhas, o qual é livre e isento de alguma servidão, acontece porém que os suplicados José de Araújo Machado e sua mulher da Rua das Flores freguesia da Sé deste destrito de paz tendo na dita freguesia de Guardizela o seu casal e Quinta de Cotiães de Cima, de que é uma parte e pertença o campo das Levadas, começaram a fazer neste dito campo a nova obra de um socalco a fim de ter mãos nos enxurros, que descem do monte de São Paulo e os lançarem ao dito campo das Cortinhas dos suplicantes, aonde nunca entraram, porque desde tempo imemorial sempre vieram a um cano que existia por baixo do dito campo das Levadas dos réus e daí continuavam por um terreno bravio até entrar no Ribeiro das Cortinhas, que fica próximo aquele campo dos suplicados – 20 de março de 1844. (AMAP: 7-33-4-1-1, fl. 3 a v)

A contenda termina num concerto entre partes, lavrado na nota do tabelião Francisco José da Silva Basto, datado de 5 de novembro de 1844 «(…) Que os preditos José de Araújo Machado e sua mulher ficam obrigados a fazer à sua custa o bordo necessário para que as águas do rego não extravazem, nem saiam para fora dele para o eido de Paço Meão deles outorgantes Dona Maria do Rosário Correia da Cunha e Vasconcelos e seu marido. Que aos mesmos José de Araújo Machado e sua mulher, ou seus caseiros, e criados, poderão entrar no dito Eido de Paço Meão, nos seus dias de água, todas as vezes que lhe for necessário para guiarem a água ou limparem o rego. Que os referidos José de Araújo Machado e sua mulher ficam obrigados à execussão do artigo décimo terceiro da lei de vinte e sete de setembro de mil oitocentos e quatro que diz = A todo o tempo poderá o proprietário do terreno requerer a mudança do aqueduto, se ela não prejudicar a passagem de água e for conveniente ao prédio, fazendo a mudança à sua Custa = Que os indicados José de Araújo Machado e sua mulher não poderão em tempo algum deitar as enxurradas para o socalco sobre que versava a questão (…)» (AMAP: 7-33-4-1-1, fl. 26).

Dona Maria do Rosário faleceu sem descendência,  herdando a propriedade o seu marido José Pinto do Amaral Freitas, que ao óbito as nomeia na geração do irmão, Francisco Pinto Carvalho Amaral Freitas, Cavaleiro da Casa Real, e bacharel em leis, proprietário, casado com Maria Arminda Leite Ferreira Sampaio Amaral, especificamente em seu primogénito José Maria, nascido na Oliveira (Santa Maria) a 14 de janeiro de 1868 (AMAP: P-456, fl. 72 v, nº 5), entretanto falecido infante, sucedendo-lhe pais e irmãos.

[1] O filho de ambos, Bartolomeu Martins casou a 05 de fevereiro de 1641 com Catarina Ribeiro (AMAP: P-352, fl. 68 v, nº 2). 

[2] O filho Domingos Lopes casou a 13 de janeiro de 1659, com Maria de Sousa, filha de Ana de Sousa do casal da Torre (AMA: P-353, fl. 119 v, n.º 3).