Localizada a nordeste da freguesia de Fermentões no limite de freguesia com Penselo, a Casa de Minotes representa um exemplar de arquitetura senhorial do concelho de Guimarães. Foi construída segundo o modelo de Casa Senhorial setecentista, havendo, no entanto, referências desde o séc. XVI.

A propriedade é constituída por casa principal, espaço florestal a norte e apoios agrícolas a poente.  

O acesso ao terreiro norte é garantido por caminho de pavimento em cubo de granito a poente da casa principal e realiza-se através de portal em pedra com vasos decorativos.

A casa principal ou Solar, construído em granito sobre um acentuado desnível do terreno, desenvolve-se em “U”, com cobertura telhada. As características de casa rural refletem-se na articulação espacial que resulta da interligação do espaço interior da casa com os pátios. Os vãos da casa principal alternam portas e janelas, estas com ombreiras até ao pavimento e molduras de avental.  As fachadas são rebocadas e caiadas a branco.

O sequeiro, instalado na zona poente da propriedade, encontra se implantado isoladamente do restante edificado. Com orientação a sul, caracteriza-se por configuração tradicional simples, com onze módulos verticais, dois pisos e eira no prolongamento do rés do chão. Os módulos são fechados com portadas de madeira ripada. A cobertura é em telha cerâmica de duas águas.

A quinta de Minotes pertenceu no final da Idade Média à nobreza do reino, integrando os bens com que faleceu D. Maria Barredo, os quais alocou à capelania mandada instituir no Mosteiro de São Domingos, na capela de São Pedro Mártir.

Os nobiliários não ecoam referências a esta senhora, pelo que, ignoramos a sua origem, se natural ou de outra região do reino. Como certeza, apenas o seu estatuto de nobre, consignado pela forma de tratamento de “Dona” e a capela que instituiu por sua morte, perpetuada nos tombos do Mosteiro de São Domingos nos seguintes termos: «Título 1º: No ano de 1437 em 1 de abril celebrou este convento um contrato de transação e amigável composição com os herdeiros de D. Maria Barredo instituidora desta capela pelo qual consta deixar o terço de todos os seus bens a este convento, e por testamenteiro o Doutor Frei Lourenço de Guimarães religioso deste convento se lhe diga uma missa quotidiana de cada dia e três aniversários em cada ano (…)». (AMAP: MC-86, fl. 19)

Por esta doação, o casal de Minotes passou à posse e administração dos frades de São Domingos, a quem cabia rezar um missa quotidiana e três aniversários cada ano, com responso e água benta sobre a sepultura depois da missa, ditas na capela de São Pedro Mártir do Mosteiro de São Domingos.

Correu o século XV e, entretanto, o novo senhor de Minotes vê contestada a sua posse na propriedade. Quem a desafia é um Rodrigo Álvares, sapateiro, obrigando o Convento a recorrer aos tribunais. Por sentença da casa da Suplicação de 21 de fevereiro de 1508, Rodrigo Álvares é obrigado a largar a posse do casal de Minotes ao Convento de São Domingos, por pertencer à capela instituída por D. Maria Barredo e assim o Convento toma novamente posse da propriedade a 07 de março de 1508. (AMAP: MC-86, fl. 19 v).

Nestes 71 anos que medeiam a fundação da capela e sentença, é provável que a propriedade fosse possuída pelos caseiros de D. Maria Barredo e seus herdeiros, sem qualquer título ou prazo, o que certamente contribui para desafiarem a posse ao Convento. Esta situação irá obrigar a instituição a recorrer à enfiteuse para, deste modo, melhor assegurar o domínio sobre Minotes. Neste sentido, a 20 de abril de 1509, o Convento realizou um contrato notarial com uma Maria Gil, no qual esta se compromete a dar ao Convento certos papéis que tinha em seu poder, pertencentes ao casal de Minotes, realizado nas notas do tabelião Afonso Martins na Honra de Sabrosa. (AMAP: MC-86, fl. 19 v).

 Em 14 de dezembro do mesmo ano realizou o Convento um prazo do casal de Minotes, em três vidas, a Pedro Anes e sua mulher Catarina Rodrigues «(…) para serem ambos as primeiras duas vidas e a 3ª um filho ou filha, e não os tendo, em outra qualquer pessoa, com foro em cada um ano de sessenta alqueires de pão, cinquenta de meado e dez de trigo, e mais um par de galinhas ou por elas vinte quatro reais, luctuosa dez tostões, laudémio a quarentena na forma da lei, e com obrigação de pagarem os sensos que deste casal se pagavam (…)», nas notas do tabelião Afonso Luís da vila de Guimarães (AMAP: MC-86, fl. 19 v).

A enfiteuse ao contemplar juridicamente dois domínios, o direto e o útil, concede este último ao caseiro, onerando-o com encargos e obrigando-o a reconhecer omni tempore o domínio do Convento. Pese embora estes encargos, parte destes agricultores, senhores do domínio útil, assumiam lugar de destaque no seio da sociedade campesina de então, fruto da sua capacidade financeira, o que lhes conferia o estatuto de «homens bons e honrados, dos principais da freguesia».

Os senhores do domínio útil de Minotes tiveram pelo menos três filhos: Domingos Fernandes, casado com Isabel Fernandes e morador na vila de Setúbal; João Fernandes, morador na vila de Almada, Gonçalo Fernandes casado no casal da Torre, em Briteiros (São Salvador), e Catarina Fernandes sucessora no casal de Minotes, casada com Domingos Duarte.

O Mosteiro de São Domingos havia realizado prazo a estes últimos, a 20 de maio de 1579, com um aumento de renda em cinco alqueires de pão meado, dois carros de lenha e dois carretos de lenha, com lutuosa de dez tostões, diminuindo o laudémio de ¼ para a quinta parte, um ganho claro para o caseiro, caso pretendesse alienar o domínio útil.

Compunham o conjunto edificado da propriedade a «(…) casa sobradada com sua cozinha e câmara e sala e loja dela a qual casa é telhada e outra casa que serve de cosinha e forno que terá três braças, colmaça, e uma casa de adega que terá quatro braças de largo e quatro de comprido colmaça e um lagar e porta com seu alpendre um curral com quatro cortes e tudo com duas portas uma ao nascente e outra ao poente, um palheiro (…)» (AMAP: Cota Antiga, Notarial 15).

Viúva desde 15 de setembro de 1597, Catarina Fernandes nomeia a sucessão do casal a seu filho Salvador Duarte, casado em Fermentões a 05 de fevereiro de 1602, com Catarina Gonçalves, também nomeada Catarina Fernandes. Viveram casados pouco mais de um ano, pois a 20 de setembro de 1603 falece Salvador Duarte. Deixou a esposa grávida e a incógnita quanto à sucessão no casal de Minotes. Catarina Gonçalves passa a segundas núpcias a 01 de novembro do mesmo ano com Francisco Gonçalves, do qual também terá descendência.

Entretanto, a sogra Catarina Fernandes, comete o erro capital de desmembrar a propriedade ao dotar o seu filho Domingos Duarte, com os campos de Possinhos. Um risco impensável a qualquer foreiro, uma vez que era delito passível de comisso, ou seja, a perda do prazo. Sabedores, os frades de São Domingos são implacáveis, e por isso, movem-lhe uma sentença e dá-se o terrível desfecho numa condenação esperada – o comisso –. Disto nos dá conta o Tombo 2º do Mosteiro: «No ano de 1605 em 15 de fevereiro alcançou este Convento sentença contra uma Catarina Fernandes, e seus genros pela qual foi condenada a comisso, e perdimento deste casal por conta de partir e desanexar dele certos campos sem consentimento deste Convento e por virtude desta sentença, tomou este Convento posse deste casal em 16 de fevereiro de 1605 de cuja sentença foi escrivão do geral Gonçalo Fernandes Escaramenta – consta no livro 2 à folha 168, e a posse à folha 180» (AMAP: MC-86, fl. 20).

A 01 de março de 1605 o Convento faz novo prazo do casal de Minotes a Francisco Gonçalves e sua mulher Catarina Gonçalves, e a terceira vida na filha desta, Maria e de seu primeiro marido Salvador Duarte. Prevaleceu a sensatez dos frades e os novos caseiros são os que já se encontravam a residir na propriedade, garantindo simultaneamente a continuidade geracional do prazo e a sanção sobre a caseira infratora. Falece Catarina Fernandes, viúva, em Minotes, sem testamento, a 16 de fevereiro de 1632.

A herdeira de Minotes, Maria Duarte, terceira vida no prazo, foi batizada a 26 de abril de 1604, casou a 26 de abril de 1626 com Manuel Martins, nascido na abastada casa de Senais, em Silvares (Santa Maria), aí batizado a 26 de novembro de 1593, falecido em Minotes a 09 de agosto de 1673, filho de André Martins, natural do casal de Galhufe, Oleiros (São Vicente) e de sua mulher Margarida Álvares, senhora herdeira do domínio útil do casal de Senais, lavradores abastados. Era neto paterno de Manuel Martins e de sua mulher Margarida Gonçalves, senhores do domínio útil do casal de Gualhufe e neto materno de João Álvares e de sua mulher Helena Martins, senhores do domínio útil do casal de Senais “reguengo fatosim ao rei destes reinos”.

Inicia-se com este casal a famosa geração dos Martins de Minotes. Batizaram sete filhos em Minotes, o primogénito André Martins batizado a 05 de março de 1627; Margarida Martins batizada a 25 de janeiro de 1632, casada em Fermentões (Santa Eulália) a 02 de novembro de 1659 com André Gonçalves, natural do casal do Carvalhal, em Pencelo (São João Batista); Francisco Martins batizado a 18 de março de 1635, sucessor no casal de Minotes; Ana Martins batizada a 28 de fevereiro de 1639, dotada a 27 de maio de 1664, para casar com Francisco Gonçalves, senhor do casal do Sirgal, para onde parte, levando em dote uns consideráveis «(…) cem mil reais em dinheiro um crucifixo de ouro que pesa oito mil reais dois anéis de ouro uma saia de pano e mantilha tudo do melhor (…)» evidenciando a abastança da casa de origem; Maria Martins batizada a 25 de agosto de 1641, casada em Fermentões (Santa Eulália) a 23 de outubro de 1672 com Domingos Vaz, senhor herdeiro da abastada casa de Ardão, em Silvares (Santa Maria); Domingos Martins batizado a 19 de junho de 1644, casado na freguesia de Selho (São Lourenço) a 25 de janeiro de 1671 com Catarina Bernardes, senhora herdeira da casa de Taipa e Ramos, propriedade da Colegiada, casa abastada, filha de Bento Gonçalves, senhor herdeiro do casal da Taipa e Ramos, e de sua mulher Catarina Bernardes; e por último, Jerónima, batizada a 02 de maio de 1648, provavelmente falecida infante.

Após renúncia da sua vida, os frades de São Domingos fazem novo prazo de Minotes, a Maria Duarte e seu marido Manuel Martins, a 04 de março de 1633. O seu herdeiro, o filho Francisco Martins, recebe-se em Selho (São Lourenço) a 12 de julho de 1671 com Domingas Martins, natural do casal de Louredo de Além, mais tarde, designado por Aléns, aí batizada a 01 de novembro de 1648, filha legítima de Pedro Gonçalves e de sua mulher Ana Martins, senhora herdeira do casal das Aléns; neta materna de Salvador Gonçalves e de sua mulher Francisca Martins, senhores do casal das Aléns. Este casamento assombrou a geração de Minotes, pois esta opção revelou-se um fardo pesado nos desígnios de afirmação social da geração, devido à permanência de sangue infeto. A noiva, Domingas Martins, trazia consigo fama de cristã-novice, uma desonra que perseguirá esta linha, limitando o acesso ao mercado matrimonial dos filhos da casa, no seio do grupo social de origem.

Desconhece-se a razão pela qual o senhor de Minotes escolheu Domingas para sua esposa, em particular sendo tão pública a fama de cristãos-novos associada à casa das Aléns. Pressupõe-se duas possibilidades para esta união: por um lado, o parentesco próximo entre Domingas Martins e Catarina Bernardes, mulher de seu irmão Domingos Martins. A avó paterna de Catarina Bernardes, Ana Martins, era irmã da avó materna de Domingas Martins, Francisca Martins, ambas naturais da casa da Pousada, em Prazins (Santo Tirso), propriedade do Priorado da Colegiada, filhas de Amador Martins, natural do casal de Antemil, Pencelo (São João Batista), e de sua mulher Margarida Anes, senhora herdeira do casal da Pousada, casa abastada, na qual parece radicar esta fama. Mas ao contrário das Aléns, a casa da Taipa, nunca teve fama de cristãos-novos, pese embora, ambas partilhem o sangue da Pousada, de Prazins (Santo Tirso).

Francisco Martins e Domingas Martins batizaram nove filhos: o primogénito, António Martins, sucessor na casa de Minotes, aí nascido cerca de 1674, casou a 16 de junho de 1749 com Francisca das Neves, nascida no casal do Loureiro Velho, a 31 de dezembro de 1718, falecida a 14 de dezembro de 1779, filha de Manuel Fernandes e de sua mulher Maria Lopes, senhores do citado casal, sem geração. Seguem-se os irmãos Francisco Martins batizado a 04 de fevereiro de 1675, falecido solteiro a 18 de setembro 1744; Domingos Martins nascido cerca de 1677, falecido a 18 de outubro de 1743; Esperança batizada a 05 de novembro de 1681, falecida infante; João Martins nascido a 17 de dezembro de 1684, casado em Santo Adrião de Vizela a 21 de fevereiro de 1734 com Maria Álvares de Abreu, nascida no casal das Lagoas, filha de João de Abreu e de sua mulher Catarina Álvares, senhores do referido casal; por último, as irmãs mais novas, Antónia Martins batizada a 29 de setembro 1687, falecida em 28 de março de 1773 e Joana Martins batizada a 27 de fevereiro de 1691, falecida a 09 de dezembro de 1782.

Pelo falecimento sem descendência dos irmãos, são estas as herdeiras de Minotes.

O último prazo havia sido realizado a António Martins a 25 de fevereiro de 1714, ainda solteiro, tendo o casal uma nova estrutura edificada «(…) uma casa nova que serve como de varanda telhada forrada e tem porta para o norte e uma janela para o sul e um postigo para o poente (…)» (AMAP: Tomo 10 dos Livros de Prazos do Convento de São Domingos, (B-17-3-46), fls. 161 a 172).

António Martins aditará benfeitorias ao prazo, como declara em seu testamento: foi ele que fez «(…) estas casas novas em que vivemos neste casal de Minotes, menos a primeira sala logo ao entrar que essa fizeram minhas irmãs tudo o que ela tem de madeiras e revestimento de pedra […] e também pagaram elas os carpinteiros e pintor […]  é das ditas minhas irmãs um guarda roupa e oratório e Santos tudo pintado como também os pilares de pedra que há por debaixo das casas (…)» (AMAP: B-2-6-63, fl. 139 v).

Lesado no seu dote, nunca pago pelos sogros e sem lhes mover demanda, António Martins aguenta o peso da mácula de cristão-novo herdada, que o inferioriza no seio da comunidade. O seu desejo de tomar estado de casado viu-se irremediavelmente onerado. Com seu irmão, João Martins, foram os únicos que acederam ao mercado matrimonial, contudo fazem-no já de avançada idade, este com cinquenta anos, António Martins já com cerca de 76.

A mesma dificuldade assistiu aos dois outros irmãos, Domingos Martins e Francisco Martins, este último declaradamente provada pelos ditos no processo de habilitação para familiar do Santo Ofício, uma última e frustrada tentativa da geração para se ver livre da fama de cristãos-novos.

Francisco Martins ousou submeter-se ao escrutínio do Tribunal do Santo Ofício numa tentativa de se habilitar a familiar. Um risco necessário para purgar a mácula, que podia afastá-la de vez, caso fosse aprovado, ou reavivá-la no seio da comunidade (fruto da inquirição daí resultante), caso fosse rejeitado, dissipando qualquer intento de promoção social e reprodução da geração no seio do grupo social de origem. O veredito do comissário é implacável: «(…) O pretendente tem rumor de cristão novo por parte de sua avó materna e por causa de tal rumor tem perdido alguns casamentos e que querendo-se ordenar um parente seu pela mesma via, se lhe pôs impedimento e não foi admitido a ordens por razão dele. Pelo que nos parece que vista à fama, ou rumor que tem de cristã novice por parte da sua avó materna não está em termos de Vossa Ilustríssima lhe deferir. Vossa Ilustríssima mandará o que for servido, Coimbra em mesa 20 de maio de 1718».

Não desistindo, submete nova petição ao tribunal dez anos depois, mas o veredito é semelhante «(...) Ilustríssimos Senhores, Fui às freguesias de Santa Eulália de Fermentões, São Lourenço de Cima de Selho, ambas termo desta vila de Guimarães, Arcebispado de Braga, e informando-me em ambas com pessoas cristãs velhas, antigas e fidedignas, achei que o pretendente Francisco Martins lavrador natural e morador no lugar de Minotes da dita freguesia de Santa Eulália de Fermentões, é filho legítimo e neto dos pais e avós paternos e maternos nesta lista nomeados e confrontados, e que por via de sua avó materna Ana Martins natural que foi do lugar das Aléns da dita freguesia de São Lourenço de Cima de Selho é constantemente infamado de cristão-novo, o que achei em todas as pessoas que me informaram, se bem que as mesmas dizem ser falsa a dita fama, e perguntando-lhe de que nascera não dão razão alguma. (…) Guimarães 24 de julho de 1729 – O cónego Cristóvão Ribeiro Ferreira».

Submeterá mais duas petições, numa das quais inclui o juramento de um comissário do Santo Ofício «sobre a limpeza de sangue» do qual negócio depende «todo o seu crédito e de toda a sua geração». Sem resposta favorável, acabará por desistir, falecendo solteiro, no seu casal de Minotes a 18 de setembro de 1744, sem geração. Deixa como herdeiro o irmão sobrevivo António Martins, que vive no casal com as duas irmãs mais novas.