A Ponte de Negrelos, ou de S. Martinho do Campo, implanta-se sobre o rio Vizela fazendo a ligação entre os concelhos de Guimarães e de Santo Tirso.

Trata-se de uma ponte cuja origem remonta à época romana, construída em alvenaria de granito, com tabuleiro plano e três arcos de volta perfeita, nos quais ainda se notam algumas aduelas almofadadas.

O tabuleiro tem cerca de 32 metros de comprimento por 3 de largura e encontra-se a cerca de 10 metros de altura do leito do rio.

O pavimento do tabuleiro é composto por lajes graníticas, de pequena e média dimensão, com perfil retangular.

O arco central é mais pequeno do que os laterais, com 6,5 metros de vão e uma consola saliente na zona do saimel, sendo composto por 31 aduelas.  Os dois arcos laterais têm 7,5 metros de vão cada, sendo que ainda são visíveis os agulheiros para o assentamento do cimbre, e são formados por 33 aduelas cada. Os arcos assentam em dois pilares implantados no leito do rio e em estribos, que estão implantados nas margens.

Do lado montante da ponte existem dois talha-mares adossados aos pilares, enquanto que a jusante se situam os respectivos esporões.  Os talha-mares possuem um perfil triangular, ultrapassando o arranque dos arcos, por forma a encobrirem as primeiras aduelas destes, enquanto que os esporões têm perfil retangular e são mais baixos que os talha-mares.

As guardas da ponte foram colocadas em 1853, e são compostas por silhares de granito, de formato retangular, e colocadas lateralmente com travamento alterado, com cerca de 80 por 25 centímetros.

Os estribos e os tímpanos apresentam um paramento isódomo, embora seja visível a origem diferente de alguns silhares: a grande maioria é liso, alguns possuem siglas de canteiro, outros possuem almofada, e alguns ainda apresentam marcas de “ferrei fórfices” da construção original da ponte.

As aduelas exteriores dos arcos possuem secção trapezoidal, aparelhada em todas as faces, sendo que em algumas se verificam as marcas para o encaixe do fórceps, e alguns possuem almofadado. Nos intradorsos dos arcos verifica-se que o paramento é homogéneo, isódomo.

Os pilares possuem um perfil retangular, até ao arranque dos arcos, assentando diretamente no afloramento rochoso que terá sido nivelado para assentar a primeira fiada de silhares. Nos talha-mares estão patentes diferentes fases construtivas, especialmente entre os dois terços superiores e o terço inferior. Neste nota-se um grande número de silhares almofadados, bem como maior homogeneidade na dimensão e tratamento da superfície, pelo que corresponderá à fase inicial da ponte.

Os esporões encontram-se adossados aos pilares nos dois terços superiores; o da margem sul é cerca de 90 centímetros mais alto do que o da margem norte, e ambos se prolongam para além da linha dos arcos (tal como os talha-mares) invadindo os tímpanos. Estes são compostos por fiadas regulares de silhares, até ao arranque dos arcos, a partir do qual o paramento se torna menos regular, com silhares de diferentes dimensões, talhe e natureza. Os estribos são os elementos que mais alterações sofreram desde a sua construção original, devido a reconstruções e à reconfiguração das margens, como a construção de muros de suporte dos terrenos adjacentes.  

No estribo da margem sul, do lado jusante, existe um esporão em forma de contraforte, embora menos robusto que os dos pilares, estando sensivelmente à mesma cota.  Este detalhe demonstra que o estribo original se deveria prolongar mais para o interior e necessitava de um reforço extra.

A ponte de Negrelos teve duas grandes intervenções, que a alteraram e lhe deixaram marcas significativas: uma foi em época medieval e a outra foi em 1853. Da intervenção medieval ficaram as pedras sigladas, entre as quais 18 cruzes de braços iguais, 5 R e 4 símbolos semelhantes ao caracter A.  Desta fase ficou ainda uma mudança dos elementos da silharia, nomeadamente no reposicionamento dos arcos.  Na aduela de fecho do arco da margem sul existe uma inscrição atribuível ao mestre responsável por esta reconstrução (Moreira 2014). A outra grande intervenção dá-se em 1853, partilhada pelas duas câmaras afetas à ponte: a Câmara Municipal de Guimarães e a Câmara Municipal de S. Tirso. Nesta intervenção foi repavimentado o tabuleiro, que se encontrava bastante degradado, e colocadas as guardas, que a ponte não teve até esta data.

A ponte de Negrelos apresenta duas epigrafes distintas: uma romana e outra medieval. A epigrafe romana (VI) encontra-se no intradorso do primeiro silhar do arco da margem esquerda; não se encontra centrada no silhar no qual está inserida, mas antes no topo da face lateral esquerda. O campo epigráfico não é delimitado, e a inscrição tem um comprimento máximo de 30 cm e uma altura máxima de 12 cm (a primeira letra tem 12 cm de altura e a segunda 11.8 cm).  Álvaro Moreira (2014) sugere a possibilidade de esta inscrição estar relacionada com a presença de um destacamento (vexillatio) da VI Legião nesta região, possivelmente envolvido na construção de Bracara Augusta e nas infraestruturas viárias da região circundante.  Esta epigrafe, juntamente com outras (como, a inscrição a Turiaco encontrada no Mosteiro de Santo Tirso, de período Júlio-Cláudio) parece balizar a construção da ponte de Negrelos no século I. Já a segunda epigrafe ([Magister] IO(hannes)S I(o)HN(nis), traduzido como Mestre João Anes) parece estar relacionada com a intervenção período medieval e alusiva ao mestre responsável pela obra. Encontra-se na aduela do fecho do arco da margem sul, do lado jusante.  O campo desta epígrafe também não se encontra delimitado, apresentando um comprimento máximo de 52 cm e uma altura máxima de 12 cm (1ª letra (grafito) tem 12 cm de altura; 2ª letra em 8 cm; 3ª letra tem 6 cm; 4ª letra tem 10 cm; 5ª tem 9 cm; 6ª letra tem 9/10 cm).  Os caracteres são cursivos e estão bem gravados. No final da linha verifica-se uma diminuição do espaço, o que obrigou a unir as duas últimas letras em nexo.