Localizada no centro da freguesia de Guardizela, no Lugar da Costeira, e de meados do séc. XVIII, a Casa do Carvalhal estende-se por área florestal atualmente rodeada por arruamentos.

É acessível a nascente e delimitada a sul, pela Rua das Costeiras; o acesso pode também ser feito pela Rua das Escolas, extinta EM512, importante eixo viário que atravessa a freguesia a norte e a poente.

O edifício da casa principal desenha um “U” fechado e desenvolve-se dois pisos construídos em granito. De tipologia “casa-torre”, compõe-se de vários volumes integrando. Na extremidade sul, o elemento torreado assenta num quadrado contruído em granito, rebocado e pintado na cor branca com três andares. Apresentando vãos de arco abatido ao centro de cada fachada, regista evidências de diversos períodos artísticos. Com cobertura telhada rematada por merlões e pináculos do período setecentista, a torre torna-se assim um elemento de destaque na paisagem.

No limite sul da propriedade encontra-se contruído um apoio às atividades da Casa, com uma implantação em “L”.

No período de pré nacionalidade, a quinta do Carvalhal pertenceu à velha nobreza Condal e seus descendentes.

Nas inquirições de 1288 o monarca D. Dinis manda devassar o lugar de Carvalhal, que se defendia por amádigo, reclamando os seus moradores isenção de todo o foro real, que pertencera outrora a um importante nobre da região que aí se criara[1]. A esta data já não havia notícia de quem fora este nobre, pois na mesma inquirição se diz que a devassa destes lugares se realizou «(…) por ninguem informar quem ahi se criasse (…)» (ANTT: Inquirições de D. Diniz).

Morava então na quinta do Carvalhal Estevão Migalha, que reclamava os privilégios que honravam a propriedade.

Nos séculos seguintes a propriedade passa a pertencer à Igreja de Santa Maria de Guardizela, possivelmente por alguma doação testamentária dos descendentes de Estêvão Migalha.

A partir de então, a propriedade foi entregue pelo senhorio direto, o Abade da Igreja, à exploração de uma família de lavradores abastados, dos principais da freguesia, através de um contrato enfitêutico na vida de três pessoas, dito prazo de vidas, que detinham o domínio útil da propriedade.

Na segunda metade desse século eram senhorios úteis do casal do Carvalhal, João Pires do Carvalhal, primeira vez casado com Isabel Fernandes e segunda vez com Eva Fernandes. Estes últimos legaram o domínio útil da propriedade em Domingos João, filho do primeiro matrimónio de João Fernandes, contratado para casar com Bárbara Fernandes de Almeida, filha natural do Padre Adriano Fernandes de Almeida, Abade de Guardizela e senhorio direto da mesma propriedade, homem abastado, senhor de várias propriedades em Guimarães.

 A escritura de dote é celebrada na quinta de Sezim, em Nespereira (Santa Eulália) nas notas do tabelião António Machado de Magalhães a 08 de outubro de 1586 (AMAP: Cota Antiga, Notarial 63, fls. 130, 131 v) e refere que «(…) por o dito João Pires foi dito que ele tinha e possuía por título de prazo o casal do Carvalhal da Igreja de Guardizela no qual é segunda pessoa com faculdade de nomear a terceira e porquanto Domingos João seu filho e de sua primeira mulher Isabel Fernandes defunta ora estava casado com Bárbara Fernandes filha de Adriano Fernandes de Almeida abade da dita Igreja e que ele por justos respeitos que assim o moviam lhe era contente de nomear como defeito nomeia o dito seu filho em terceira vida no dito prazo e nele cede e trespassa todo o direito posse e aução domínio e senhorio que no dito casal tem e ao diante possa ter (…) e assim por estar presente o senhor Adriano Fernandes de Almeida por ele foi dito que ele dava seu consentimento e autoridade a esta escritura (…)»(AMAP: Cota Antiga, Notarial 63, fls. 130, 131 v).

O novo prazo foi realizado em 15 de fevereiro de 1614 em nome de Domingos João e sua mulher Bárbara Fernandes, registado em Braga no Registo Geral da Mitra « (...) Aos 15 dias do mês de fevereiro de seiscentos e catorze nesta cidade de Braga (...) o qual prazo ele abade concedeu a ele Domingos João do casal do Carvalhal pertença da dita sua Igreja para que nele fosse primeira vida e sua mulher Bárbara Fernandes segunda ou qual deles ficasse derradeiro e em terceira vida um filho ou filha dantre ambos (...) e dele se haver de pagar de renda foro e pensão à dita Igreja de Guardizela por dia de São Miguel de Setembro cada um ano oitocentos reais em dinheiro e duas galinhas boas e de receber e de luctuosa por falecimento de cada pessoa outro tanto como de renda e assim se havia de pagar de censo perpétuo do dito casal ao Mosteiro de Serzedelo cento e quarenta reais como mais largamente do dito prazo consta o qual está passado em nome do muito reverendo senhor Doutor Aleixo de Morais, governador e provisor deste arcebispado e diz ser dado nesta cidade de Braga (...)» (ADB: A - 13-222 v).

No final do séc. XVII herdou a quinta do Carvalhal o Padre Doutor Manuel Vieira Pinto, filho varão de João Vieira da Silva e de sua mulher Maria Ferreira Brandão, nascido a 03 de dezembro de 1699 e falecido a 28 de julho de 1757 (AMAP: P-355, fl. 263 v, n.º 1). Foi sacerdote do hábito de São Pedro, juntamente com seu irmão o Padre Bernardo Pinto Brandão, ambos se ausentaram para o Brasil. A Guardizela e ao Carvalhal regressa o Doutor Manuel Pinto Brandão, a quem vemos a apadrinhar um menino a 16 de janeiro de 1735.

Seguiu a propriedade do Carvalhal na geração de Paulo António Vieira Pinto Brandão, filho mais novo de João Vieira da Silva e de sua mulher Maria Ferreira Brandão. Foi buscar esposa à quinta de Bassar, freguesia de Cristelo (São Salvador), Couto de Apúlia, concelho de Barcelos, Dona Micaela Teresa Veloso de Miranda e Matos, com quem casou na capela de São Caetano, em Bassar, a 13 de fevereiro de 1744 (ADB: B-316, fl. 82 v, n.º1), filha de Luís Veloso de Miranda, natural da freguesia de Barqueiros e de sua mulher Dona Teodora Luísa de Miranda e Matos da freguesia de São Nicolau da cidade do Porto.

Herdou a quinta do Carvalhal o sobrinho do anterior proprietário Bernardo Félix Veloso Brandão de Miranda, em Bassar, lugar meeiro, partilhado pelas freguesias de Cristelos e Barqueiros de São João a São João, em 22 de novembro de 1744, batizado nesta última freguesia a 29 (ADB: B-204, fl.. 9, n.º 1), filho de Paulo António Vieira Pinto Brandão e de sua mulher Dona Micaela Teresa.

Bernardo Félix Veloso Brandão de Miranda casou na freguesia de Guardizela a 05 de julho de 1773 (AMAP: P- 355, fl. 235), com Dona Cecília Maria de Meneses Miranda, nascida na Casa de Dentro, Ruivães (São Martinho), Vieira do Minho, 03 de agosto de 1744 (ADB: B-178, fl. 109 e v.), falecida na quinta do Carvalhal a 23 de julho de 1779 (AMAP: P-355, fl. 288 v, n.º 1), filha legítima do capitão-mor António José de Magalhães Laborão de Almeida, e de sua mulher Dona Antónia Maria de Meneses, nascida na quinta e casa da Portela, em Selho (São Jorge), Guimarães.

O abade de Guardizela João José de Menezes Laborão e Magalhães fez prazo do Carvalhal a 03 de abril de 1783 em nome de Bernardo Félix Veloso Brandão de Miranda, então demente e representado por seu tutor e administrador seu pai, Paulo António Vieira Pinto Brandão, «(…) o qual casal se achava vago por falecimento do Reverendo Doutor Manuel Vieira Pinto e no domínio útil está o senhor Bernardo Félix Veloso viúvo que ficou de Dona Cecília Maria de Meneses sobrinho do defunto que foi última vida (…)».

Pela primeira vez surge num prazo referência à Torre do Carvalhal, provavelmente reconstruída de uma ruína, situada a sul para a para o poente «(…) com suas ameias e grimpe (…)», além da capela de São Bento, então arruinada.

Segue a descrição do conjunto edificado na vedoria do prazo: «(…) Item, tem este casal o assento do Carvalhal aonde têm estes caseiros suas vivendas todo tapado e cercado sobre si e principiando a medição na parede que tapa o campo chamado das Oliveiras de fronte da porta dos caseiros que fabricam os bens e continuando a mesma medição de Norte a Sul pela estrada abaixo pela parte do poente ate aos matos da Torre aonde faz quina tem de comprido trezentos e noventa e sete varas medidas de norte a sul pela parte do nascente principiando na quina onde finalizou a primeira medição (...) e dentro de toda esta medição está o Assento das casas dos caseiros que medidas de Norte a Sul pela parte do nascente tem 30 varas, e do nascente ao poente medidas pela parte do sul tem 20 varas e do sul para o norte pela parte do poente tem 30 varas e do poente para o nascente pela parte do norte tem vinte e duas cujas moradas constam de casas terras e sobradadas, lojas adegas e celeiros e currais palheiros e uma torre de dois sobrados com suas ameias e grimpe que está sita na parte do sul para a parte do poente; Item, onde principiou a primeira medição um Soutinho de Castanheiros aonde se inclui a capela de São Bento arruinada que tudo vai já metido e incluído na medição cuja terra do Soutinho está solta e devoluta;  Item dentro de toda esta medição a eira com seu alpendre junto ao assento das casas para a parte do nascente (…)» (ADB: A-216, fl. 172-181).

Herdou a quinta do Carvalhal como segunda vida Dona Clemência Clara Miranda de Meneses, filha de Bernardo Félix e de sua mulher Dona Antónia Maria de Meneses, nascida na quinta do Carvalhal. Casou em Guardizela, a 26 de setembro de 1789 (AMAP: P-1417, fl. 5, n.º 2), com Lourenço Machado de Miranda Gusmão Coelho Cunha, Comendador da ordem de cristo, Senhor da casa do Assento de São Paio de Figueiredo. Destes foi filha Dona Francisca Benedita Gusmão, sucessora no Assento que foi 1ª mulher de Manuel Bernardino de Araújo Abreu, Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

A partir de então os senhores deixam o Carvalhal mudando-se para a Vila de Guimarães, visitando a quinta esparsamente por altura das colheitas. O último membro da família a fixar-se no Carvalhal é o Padre Manuel Machado de Miranda Gusmão Carmona, Magistral na Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, na vila de Guimarães, nascido na casa do Casconho, Leitões (São Martinho) a 23 de março de 1760, falecido na quinta do Carvalhal, a 4 de outubro de 1837 (AMAP: P- 1287, fl. 59 v, n.º 1), filho de António Machado de Miranda Gusmão e Vasconcelos e de sua mulher Dona Rita Maria Pereira de Faria e Cunha, senhora herdeira da quinta de Casconho, em São Paio de Figueiredo. Era irmão germano de Lourenço Machado de Miranda Gusmão Coelho da Cunha, casado em Guardizela (Santa Maria), a 26 de setembro de 1789 (AMAP: P-1417, fl. 5), com Dona Clemência Clara de Miranda e Meneses, herdeira do Carvalhal, segunda vida no prazo do Carvalhal realizado a seu pai, Bernardo Félix, aí nascida a 26 de março de 1776 (AMAP: P-355, fl.177 v), falecida a 23 de julho de 1779 (AMAP: P-355, fl. 288 v, n.º 1). Eram ambos filhos de António Machado de Miranda Gusmão e Vasconcelos e de sua mulher Dona Rita Maria Pereira de Faria e Cunha, senhora herdeira da quinta de Casconho, em São Paio de Figueiredo. Estes dotam a propriedade a sua filha Francisca Gusmão.

[1] Amádigo: conjunto de privilégios que se concediam às amas que criavam os filhos legítimos dos reis e dos fidalgos ou aos lugares onde eles eram criados.