A casa da Espinhosa fica localizada na cidade de Guimarães. A casa foi projetada pelo Arquiteto Marques da Silva em 1921 e concluída dois anos depois. Encontra-se inserida na Quinta da Espinhosa que, com a evolução da cidade, foi perdendo área e carácter. A norte da casa ainda se encontram as ruínas de uma das estruturas de apoio.

A casa é envolvida por jardins a nascente, sul e poente, e zona arborizada a norte. O acesso faz-se pela rua do Pombal, com muro recuado criando um adro que precede o portão assinalado por duas grandes tílias.

A casa atual apresenta alterações ao projeto inicial, do lado norte. Um incêndio destruiu parte da casa e, aquando da rua reconstrução, foi ampliado o terceiro piso e foram modificados alguns vãos. Contudo a implantação mantém-se, com planta irregular formada por um jogo de volumetrias que se intersetam. As coberturas são diferenciadas, com três e quatro águas.

O projeto reflete uma casa burguesa rodeada por jardins, com o piso térreo destinado a serviços, o andar a zonas sociais e o último aos quartos. No exterior, a casa é rebocada num tom rosa avermelhado com diversas marcações em granito que compõem os alçados, como embasamento, molduras de vãos, elementos estruturais de varandas e escadas de acesso, com apontamentos decorativos. As caixilharias e o beiral que remata a cobertura são de madeira pintada a branco.

A fachada principal está orientada a nascente, voltada para um jardim e terreiro que os separa. Uma escada de tiro assinala a entrada principal na habitação, partindo do centro do terreiro em semicírculo em direção a alpendre sobre patamar que precede a entrada. A escada é de granito com guarda em ferro trabalhado e corrimão em madeira. O alpendre telhado assenta sobre estrutura de madeira com forro interior, apoiada em estrutura de granito composta por cachorros e pilar sobre balaustrada. Por baixo da escada há uma passagem arqueada que dá acesso a uma porta do piso de serviços. A fachada norte tem uma segunda entrada para a habitação, com escada em granito.

A fachada sul volta-se para o jardim formal, implantado a uma cota inferior, com fontanário ao centro. Fechado por balaustrada, este jardim teve em tempos vista panorâmica sobre a cidade. Na fachada destaca-te a volumetria em consola de granito apoiada sobre cachorros, que dá apoio à varanda do último piso, com dois pilares de granito a sustentar o avanço da cobertura. À esquerda encontra-se uma varanda com alpendre inferior, apoiada em pilares de granito com a mesma linguagem do embasamento. A guarda é semelhante à da escada de entrada e o teto é forrado a madeira pintada de branco.

Na fachada poente destaca-se uma janela de sacada apoiada em mísulas com guarda em ferro e cobertura telhada.

A quinta da Espinhosa, também nomeada como casal de Sezulfe, resultou do desmembramento ainda no século XV, da quinta da Amorosa. Era uma propriedade do Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, inscrito na carta de privilégio que D. Afonso V concedeu à igreja de Santa Maria de Oliveira de Guimarães, conhecidos por privilégios das Tábuas Vermelhas (AMAP: PT/TT/CSMOG/DR3/08).

O caseiro mais antigo que se documenta é João da Espinhosa, de quem descenderá Fernando de Espinosa, caseiro do Cabido, aquando da vedoria de 23 de outubro de 1511. Neste documento, a propriedade é ainda identificada como o segundo prazo da quinta da Amorosa, compondo-o as seguintes estruturas:

«(...) Item, primeiramente uma cozinha e uma adega e uma corte e outra de ter bestas;

Item logo abaixo das ditas casas uma vinha que parte de todas as partes com herdades do dito casal e da dita quinta da Amorosa que dará de vinho R almudes e tem junto das ditas casas três laranjeiras e tem a dita vinha figueiras e pereiras e pessegueiros e ameixieiras e tem hum castanheiro bom de castanha (…)» (AMAP: C-1412, fl. 36).

Pertenciam a esta geração, provavelmente filhos de Francisco de Espinosa, o cónego Álvaro de Espinhosa, notário apostólico em 1544 e capelão de Diogo Lopes de Lima, alcaide-mor de Guimarães, e Catarina Fernandes de Espinosa, casada com Álvaro Fernandes serralheiro, natural de Santa Comba de Fornelos, Fafe, moradores na Rua de Valdedonas. Do mesmo tronco descenderiam Pedro Gonçalves, ou sua mulher, Maria Fernandes, senhores do domínio útil do casal da Espinhosa, cuja vedoria é realizada pelo cabido a 26 de setembro de 1554. A esta data a quinta da Espinhosa era composta por:

«(...) Item primeiramente uma cozinha telhada com seu repartimento e logo de diante contra o norte à porta estaão duas cortes e no outão desde contra o sul está hum palheiro

Item, pegado logo no outão da cozinha desde contra o nascente está um campo todo serrado sobre si e tem dentro de redor fruteiras e figueira e romeiras e pegado logo na porta da cozinha contra o sousão estão três larangeiras novas e boas e duas zambreiras e logo abaixo está uma horta e de redor estão uveiras e levará de semeadura seis alqueires (…)» (AMAP: C- 1415).

Nesta vedoria o caseiro declara que sua sogra era segunda vida no prazo e se comprometia a levar o documento ao Cabido, para melhor confrontação. Pagava de foro quatrocentos reais e duas galinhas.

Sucedeu na propriedade a filha destes, Isabel Fernandes, que a 11 de julho de 1567, juntamente com o marido, Pedro Álvares, fazem uma procuração para que ela, como filha de Pedro Gonçalves, possa receber o quinhão da herança que lhe cabe do testamento do padre Belatre Martinis, vigário da Ribeira Brava na ilha da Madeira (AMAP: Cota Antiga, N- 7, fl. 175 v).

Na viuvez, Isabel Fernandes solicita ao Cabido realização de novo prazo, que desencadeou nova vedoria. Nela é possível documentar uma evolução da estrutura construída no casal, face ao último prazo, nomeadamente uma casa sobradada, que substituiu a velha casa cozinha e uma nova cozinha:

«(...) Item primeiramente uma casa sobradada que tem porta para o norte e tem uma janela para o nascente e outra para o sul e tem uma porta para o nascente debaixo desta casa que serve para entrar de baixo desta casa que serve o vão desta adegua e tem da banda do norte uma cozinha pegada na mesma casa;

Item uma casa terreira em que mora sogra do caseiro que estava detrás da casa acima contra o poente;

Item acima desta casa terreira está uma corte de gado e de fronte desta casa e corte está uma latada na saída da mesma casa;

Item de fronte da casa sobradada está uma casa nova que serve de cozinha está ainda descolmada;

Item na saída deste casal está uma devesa demarcada por marcos e cômoros e pode ter vinte pés de carvalhos e tem de comprido de nascente a poente cinquenta e uma varas e de norte a sul quarenta e cinco varas (…)» (AMAP: C-932r, fl. 1).

Seguirá o prazo da Espinhosa em Margarida Álvares, aí falecida a 05 de junho de 1633, filha dos anteriores caseiros, casada com Salvador Mendes, falecido a 31 de janeiro de 1620. Estes realizaram a 10 de novembro de 1603 um escambo de propriedades com Gonçalo Pires e sua mulher Catarina Gonçalves, moradores no casal de Sezulfe, o que talvez explicará o contágio do topónimo Sezulfe à propriedade da Espinhosa. (AMAP: Cota Antiga N-73, fl. 48-50).

O prazo da Espinhosa integrará o dote de casamento de Maria Mendes, filha dos anteriores caseiros, que ajustam o seu matrimónio com Mateus de Andrade, nascido em São Torcato, batizado a 22 de setembro de 1591, falecido na Espinhosa a 31 de março de 1644, filho de Fernão Lourenço e de sua mulher Ana Luís, senhores do domínio útil do casal da Formiga.

Herdou a propriedade o filhos daqueles, António de Andrade, imaginário e escultor, nascido em São Sebastião a 12 de janeiro de 1629, casado cerca de 1665 com Ângela Lopes, nascida em São Sebastião a 15 de novembro de 1636, aí falecida a 11 de agosto de 1705. Era filha de Simão Álvares estampador e pintor e de sua mulher Maria Lopes. O Cabido irá realizar novo prazo em nome destes caseiros, em 14 de janeiro de 1675, pelo tabelião André Lopes, no ofício de António Machado Barbosa. A mesma propriedade será reconhecida no Tombo por Luísa de Andrade, solteira, em 9 de janeiro de 1723, filha dos anteriores caseiros, falecida em São Sebastião, a 04 de julho de 1730, sucedendo-lhe seu irmão o licenciado Francisco de Andrade, solteiro, a quem o Cabido reconhece como caseiro em 23 de dezembro de 1734 e 3 de janeiro de 1735 (BTH: 1940, vol. V, 65) falecido em São Sebastião a 20 de janeiro de 1750. O prazo da Espinhosa havia sido, entretanto, alienado pelo mesmo e adquirido pelo capitão Manuel Pinto Carneiro[1], familiar do Santo Ofício e Cavaleiro da Ordem de Cristo e sua mulher Maria Carneiro[2], a 16 de outubro de 1741 reconhecido pelo Cabido como novo caseiro da Espinhosa a 27 de janeiro de 1742 (BTH: 1940, vol. V., 65) e a este, sucedeu sua filha e genro Dona Maria Teresa Pinto Carneiro Montenegro e António Pedro de Alcântara Sá Lopes, seu marido, moradores na cidade do Porto.

No período de remissão dos foros, a propriedade foi adquirida pelo industrial de curtumes, Belmiro Mendes de Oliveira, que o legou a sua filha para casar com um filho de Rodrigo Lopes Pimenta, antigo diretor do arquivo Municipal Alfredo Pimenta.

[1] Filho legítimo de António Pinto e de Isabel Carneiro, naturais e moradores na aldeia de Leça, freguesia de São Cristóvão de Refojos, bispado do Porto; neto paterno de João Francisco natural de Leça e de Maria Pinto oriunda do lugar do Soval, freguesia de Santa Leocádia; a qual era filha de Gonçalo Pinto e de sua mulher Jerónima Ferreira; neto materno de Domingos Carneiro e de Maria Carneira moradores no lugar de Leça.

[2] Filha de Domingos João, lavrador e de sua segunda mulher Isabel Francisca, moradores na freguesia de São Cristóvão de Refojos, comarca da Maia, do lugar das Portadeiras, ele daí natural, ela natural da freguesia de Santa Eulália de Lamelas. Maria Carneiro ao óbito do pai, mudou-se na companhia de sua mãe, do lugar de Portadeiras para o lugar de Devesinhas, onde exercitava o ofício de tecedeira, de que vivia e se sustentava com sua mãe. Neta paterna de António João e de sua mulher Catarina Carneiro, lavradores que viviam de suas fazendas. Neto materno de António da Costa e de sua mulher Antónia Francisca, lavradores em algumas terras que tinham e noutras arrendadas, no final da vida viveram de jornais.